Estudos
recentes mostram que a aporofobia não acontece apenas com quem está
em situação de rua, como pedinte ou morador de áreas com
uns.
Muitos funcionários que exercem tarefas de limpeza e conservação
de espaços públicos já sentiram na pele a aversão por parte de
quem, por ter uma situação financeira melhor, acha-se “superior”.
É o caso do pessoal que varre as ruas, parques e jardins, que, em
muitos casos,
se sente silenciado
socialmente, não merecendo atenção sequer para as saudações
banais, como um “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, um
reles “e
aí?” ou “olá!”
O padre Júlio Lanccelotti coordena a Pastoral do Povo de Rua de São Paulo. Entrou na mira de quem, como dizia Caco Antibes, no humorístico “Sai de baixo”, “detesta pobres!” As manifestações incluem a negativa de dar esmolas e a colocação de empecilhos para que as pessoas se abriguem embaixo de pontes. O ódio ao religioso se acirrou quando este tomou uma marreta e começou a destruir paralelepípedos instalados sob um viaduto. Agora, está na Câmara dos Deputados um projeto que impede técnicas de construção hostil e que restrinjam o uso do bens público.
Por outro lado, o uso de máscaras durante a pandemia fez aumentar o número de suspeitas de pessoas que tenham feito pequenos furtos, especialmente em lojas de shoppings. O perfil: homem jovem, negro e desempregado. A simples aparência já é motivo para um olhar de reprovação… O triste é que, muitas vezes, quem aponta supostos culpados são atendentes que estão em situação “melhorzinha” porque, neste momento, conseguiram um emprego. Mas que, no limiar de uma situação financeira que demarca a pobreza, estariam muito próximas dos supostos meliantes.
O preconceito é o negacionismo de uma cultura. Não se nasce com aversão a uma raça, religião, sexo, idade ou nível social. Se bebe no seio da família e do grupo em que se vive. É como certas doenças ou vícios: é fato. Precisa ser tratado. Existe e está mais presente na realidade social do que se deseja reconhecer. Maquiar a realidade é um jeito perverso de encobrir as omissões de cada um com aqueles que sofrem com o preconceito. O sonho da raça dos melhores deu no que deu e ainda hoje se discute que tipo de sociedade gerou um Hitler. Será que a História não ensinou uma lição?
Pessoas não desaparecem apenas porque se quer. Medidas paliativas fazem com que migrem. As “limpezas” - para esconder a incompetência em resolver problemas sociais - são propostas para que cidades não apresentem esta chaga e o quanto parcela da população deseja viver em devaneios... Os problemas sociais e econômicos que se vivem não têm solução imediata. Ser pobre não é opção… mas também não precisa ser um estigma. Do que se vê nas ruas, oportunidade, educação e saúde pública são eixos que não podem faltar quando se almeja uma sociedade que, de fato, seja cidadã.
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