É preciso combinar: uma das poucas coisas que temos certeza que vai acontecer depois que passar esta pandemia do Coronavírus é que vamos estar mais pobres. A classe trabalhadora, sobretudo a grande maioria que ganha salário mínimo ou próximo disto, vai ter a sua condição de sobrevivência dificultada. Nem se fala daqueles que estão na pobreza, em muitos casos, beirando a miséria, distantes do mercado de trabalho e, como diz a Bíblia, comendo "migalhas que caem das mesas dos senhores".
As tímidas medidas tomadas pelo governo, até agora, são atrapalhadas e jogaram nas ruas contingente perigosamente próximo de ser infectado, apressando o processo que poderia ser mais longo, permitindo a preparação da rede de saúde. O problema não é alguém ser infectado, mas a possibilidade de passar adiante o vírus. Olhando para a região, havendo necessidade de internação, o sistema está saturado e, nas Unidades de Tratamento Intensivo, a ocupação, em Pelotas e Rio Grande, é de 100% dos leitos...
Para os aposentados, mostrou-se uma faca de dois gumes: a antecipação do 13% salário significa um dinheiro que ajuda neste momento, mas abre um rombo no orçamento do final do ano, trocando seis por meia dúzia. Afinal, de alguma forma, na virada do ano, vão ser necessários recursos para pagar Imposto Predial, IPVA e tantos outros... Um economista dizia que precisamos ter consciência de que nossos hábitos de consumo terão que mudar. Certo, mas e para quem já está fora da roda de consumo?
Analista falava da "bolha" onde a sociedade com recursos se recolheu e passou a olhar para quem está fora dela de forma "poética, afinal é só eles copiarem nosso jeito de viver..." Não vai dar certo. Se quem tem menos vai sofrer na redução de salários - até com o desemprego, eliminação de horas extras e gratificações - esta conta precisa ser rachada por todos, inclusive o poder público, que deve investir não "aquilo que é do governo", mas recursos que a sociedade entregou para serem usados pelo bem público.
Há duas palavras muito usadas e, creio, com razão: reinventar e desacelerar. Ensino, comunicação, comércio, indústria, administração pública e religiões, especialmente, têm uma oportunidade rara de repensar suas estratégias de ação. Por outro lado, a desaceleração mostrou imagens da melhoria da qualidade ambiental, com menos poluição por sobre as grandes cidades, por exemplo, e lugares há muito escondidos pela degradação da natureza, que agora podem ser vistos à distância e a olho nu.
É cedo para traçar perspectivas. Mas não se engane, como um todo da sociedade não ficaremos melhores por causa dos problemas enfrentados. O que precisa acontecer é que um contingente maior se conscientize de que o grande mote do convívio é a interdependência: precisamos uns dos outros. "Ecochatos" já diziam com toda razão: "consciência ecológica e social tem jeito, sim, precisa é que o homem tome jeito!"
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