Uma peça publicitária: idoso solitário anda pelos corredores desertos de um condomínio. Em cada porta deixa pendurada na maçaneta uma lembrança, sem que se dê conta de que está sendo observado pelo síndico, que resolve retribuir. Organiza um evento com os moradores que vão saindo "sorrateiramente" de seus apartamentos, enquanto o presenteador observa pelo olho mágico...
Abre a porta e vê, a seus pés, um enfeite para árvore de Natal. Segue a procissão dos que, ao sair, tinham algo em suas mãos... Chega a um espaço de convivência onde os moradores o aguardam e saúdam como o responsável por terem se unido, dando sentido à motivação da publicidade: "juntos para transformar vizinhos em família." Na árvore falta apenas um detalhe: a sua bolinha "mágica", a bolinha da solidariedade!
Muitas são as peças que emocionam apelando para sentimentos de paternidade, filiação, amizade, disponibilidade para o outro... Mas, as mesmas produções que enchem os olhos de alegria também despertam em muitos idosos, doentes, pessoas deprimidas, angustiadas a sensação de que não fazem parte da mesma realidade.
Chega-se à virada do ano coberto de boas intenções. Como sempre, pensa-se em perder peso, voltar a estudar, reencontrar um amigo do qual se afastou... Mas o tique-taque das horas e a virada das folhinhas do calendário levam junto as boas intenções... Resta o dia a dia com o seu peso, sua rotina e a volta à vidinha de sempre!
Conversando com uma amiga reforcei a ideia de que a vida não propicia uma experiência em que todos os momentos são felizes, mas sim de que o sopro, o respiro diante da mesmice são exatamente os momentos que não permitem que se desanime, especialmente quando se tem uma chance de dar uma razão para alguém ser feliz.
Hoje ainda se bate muito na questão de "manter a família", um grupo grande, com gente que se reúne alegre e feliz. A "evolução" dos tempos levou a que muitos se afastem; que "amigos" não sejam tantos quanto se gostaria; ou que nossos grupos e comunidades já não respondam ao estilo mais próximo de convívio.
Nas ruas, vejo muitos "maiores abandonados" andando pelas calçadas "fresteando" a ferragem, o mercadinho, a fruteira... buscando motivos para bater um papo. Pessoas carentes? sim, como todos nós. Mas, como o vizinho do apartamento, tomam a iniciativa de deixar uma lembrança de porta em porta, transformam vizinhos em amigos. Dão uma razão para se fazer alguém, nem que seja por um instante, experimentar o direito de ser feliz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário