No final da ditadura militar se cunhou a expressão “democracia relativa”. Para quem defendiam o sistema era a ponte a ser cruzada entre os anos difíceis vividos sob o jugo que acabaria em 85 e a democracia. Hoje, alguns dizem que grande parte dos nossos problemas se dão em função de que temos uma democracia ainda jovem demais.
Esta afirmação soa como deboche. Não ouvi alguém se dizer “quase grávida“. Mas não duvido que venha a acontecer diante da facilidade com que políticos e administradores assumem um discurso capaz de afrontar o óbvio sem o menor constrangimento.
Numa entrevista, analista falava em "diluição ética". Seria parecido: todos defendem os valores da moral. Mas... quando chega na prática a questão é ter poder para bater de frente com a verdade ou possibilidade de jogar com elementos do discurso que levem à confirmação da máxima de Joseph Goebbels de que "uma mentira mil vezes repetida vira uma verdade”.
Os escândalos se repetem e, como num mantra, os envolvidos negam, reafirmam a lisura de seu comportamento, assim como confiam de que "a Justiça será feita". Pois é na Justiça que residem muitos medos. Em algumas instâncias tudo demora de tal forma que os investigados acabam tendo seus crimes prescritos. E ficam impunes.
Quando a Justiça não resolve fazer o que fez semana passada, liberando a mulher do ex-governador Sérgio Cabral, com a explicação de que os filhos precisavam de um dos pais em casa. Como assim? Esta “bondade” da Justiça não existe! E se existisse porque apena aplicada neste caso?
São tantos os escândalos que já estamos ficando "acostumados" e perdemos a capacidade de indignação: alimentos irregulares (carne, leite...), desvio de recursos públicos, obras que se desmancham em pouco tempo, asfixia com impostos e mudanças de benefícios em que a responsabilidade sempre foi do governo.
Por detrás está a necessidade de redescobrir o sentido da moral e da ética. Para elas não há relativismos: todos devem ser responsabilizados por seus atos e pagar por seus crimes. E hoje temos uma emergência: fazer os poderes constituídos se regenerarem.
Mas tudo pode se repetir se não aplicarmos a tolerância zero nas nossas relações desde a infância, quando as crianças criam seus valores seguindo regras para brincar e, especialmente, no respeito ao coleguinha, que representa o convívio cidadão que vai desenvolver por toda a vida.
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