Num texto recente, falei sobre minha formação e meu "pós-doutorado" em envelhecimento. Foi o suficiente para que pessoas compartilhassem experiências como cuidadoras de doentes e idosos, também de pessoas especiais. Até com reclamações de que exagerei ao dizer que a "sociedade não sabe conviver com a doença e a velhice".
Reafirmo o que disse como regra geral. Mas, é claro, existem exceções. Muitas delas lindas e comoventes, sendo exatamente isto: exceções. Portanto, confirmam a regra.
O bom é que diversas instituições de ensino estão se voltando para esta área, focando não apenas na pessoa cuidada, mas também no cuidador. O fato de uma doença se prolongar, alguém durar muito tempo, a coexistência com um especial durante uma vida, em muitos casos é a motivação para o afastamento do convívio social, indispensável para a sanidade mental de qualquer um dos dois.
No caso da pessoa cuidada, muito já se falou a respeito. Sobre quem cuida a preocupação é menor e cada vez que se encontra uma delas a tendência é julgar ser apenas apêndice do processo. Espaços de discussão abrem a possibilidade de questionar não apenas como se cuida, mas também de quem cuida do cuidador.
Por experiência própria - e do muito que escuto a respeito - há alguns elementos importantes a fim de preservar a integridade física, mental e espiritual de ambos. Em primeiro lugar, a consciência de que ninguém cuida bem se não for capaz de se cuidar. Parece elementar, mas tanto profissionais, quanto familiares e amigos esquecem de que também se desgastam nesta relação e, ao não recarregar energias, vão se tornando amargos e desiludidos.
Depois, é preciso não "coisificar" quem é cuidado, para não se cair na tentação de pensar que a pessoa é "propriedade" de quem cuida. Fundamental é respeitar, manter e fazer aflorar a individualidade e a personalidade de quem, por algum motivo, se tornou dependente. Certamente, um dos maiores desafios desta relação.
Um provérbio citado por judeus russos diz: "quando um homem é feliz, um dia vale por um ano". Boa receita para quem lida com pessoas em situação de fragilidade. Possivelmente apenas um momento em que a mão acaricia uma pele enrugada, olhos demonstrem prazer e satisfação, o esboço de um sorriso, faça valer a pena dedicar tempo a quem precisa ser cuidado. A satisfação de quem cuida passa pela certeza de que fez o melhor e que está em paz com a própria consciência.
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