Recebi carinhoso telefonema da Gicelda fazendo uma entrevista sobre a minha aposentadoria da Católica, a partir do final do ano. Tentei ser claro que guardo grandes amizades por muitos alunos que buscaram descortinar mundos com a ajuda de um professor que já se considerou bom, mas que hoje não consegue se julgar adequado à sala de aula. Mas que, hoje, os jovens estão com problemas diferenciados e que, eu, não consigo me ver como aquele arrimo que precisam para encontrar horizontes. Então é hora de deixar para outros, mais jovens, que possam fazer uma nova jornada.
A pergunta de sempre: vais sentir falta dos bancos escolares e dos horários a serem cumpridos? Não, não vou. Há algum tempo, minha vida tem sido de atendimento em sala de aula, mas, também, em palestras, rádio, televisão, jornais, atendimento pela internet, que faz com que muitos dos ex-alunos procurem uma formação continuada, ou um consultor para as horas mais difíceis.
Mas tem, também, aquele olhar de vileiro que sou, há 53 anos, desde que chegamos a Pelotas, vindos do interior de Canguçú, quando tinha quatro anos. Sair pela manhã para cortar o cabelo é encontrar a turma da ginástica, na igreja, a caminho de casa; passar pelo açougue é descobrir as notícias mais recentes; ganhar uma muda de roseira é conhecer os recantos de um belo jardim e programar o plantio no horário e local mais conveniente; assim como voltar para casa é encontrar pessoas rezando com a mãe, na cama, e investir na gentileza de ceder mudas e trocar informações sobre o plantio.
As mudanças em minha vida nunca foram radicais. Deus sempre foi me preparando até assumir um novo jeito de viver. Creio que, agora, a mudança é para melhor: talvez não escreva mais, quem sabe não tenha rádio e televisão, mas deve haver alguma instituição precisando de alguém que lave pratos, descasque batatas ou cuide de crianças no intervalo de aulas...
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