Tempo de feiras do livro, bom para se observar as praças por onde se escondem emoções, aconchegos, entregas, surpresas... Embora o livro seja o destaque, também se podem observar aqueles que lidam com eles: a fauna é variada, com idosos em busca de recordações, aqueles títulos que marcaram uma vida; adultos preocupados com sua formação profissional ou em encontrar um espaço de lazer; jovens em busca de um horizonte de esperança e crianças que tentam entrar num mundo que parece, ao mesmo tempo, complicado e tentador.
O garoto que furungava nos sebos e nas seções infantis tinha a expressão de ansiedade: mãozinha fechada, segurava algum dinheiro com a força de quem sabe que ali está a chance de adquirir alguma novidade. Depois de um interrogatório com o livreiro, foi adiante. Não resisti em perguntar ao livreiro o quê ele procurava. A resposta: ganhara cinco reais de um padrinho e queria um livro. Quase afirmei ser impossível comprar um livro com cinco reais. O olhar entre compreensivo e debochado do atendente afirmava que sim, era possível comprar um livro com tão pouco dinheiro!
Tive vontade de ir atrás do menino e conversar com ele sobre seus gostos, os desafios que enfrentava, os desejos que procurava realizar. Mas me contive. Não tinha o direito de penetrar naquele universo infantil e violentar a sua vontade que era dele próprio fazer a sua busca e saber que encontrara, comprara e poderia curtir o tão sonhado livro.
Diante de uma realidade que, na maior parte das vezes, aponta perspectivas sombrias para as novas gerações, estava ali uma chama que merecia ser acalentada. Não era um intelectual, não era um sábio, sequer um experiente degustador de obras clássicas.
Apenas um menino que gostava de livros. Fazendo a diferença do que se pensa para as novas gerações: nenhuma perspectiva pode estar perdida se apenas um menino estiver entre sebos e seções infantis ampliado seus horizontes, alimentando a fantasia, os sonhos e as sementes que fazem a vida ter um colorido muito, muito especial, com um livro nas mãos!
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