Sou resquício de um tempo em que identidade se fazia desde o berço, começando por coisas simples, como o lugar de origem – ali era a casa do seu Aldo, a casa do seu Borge, a casa do seu Nelson – e nos serviam de referência para enfrentar o Mundo, na certeza de que um dia voltaríamos. Depois de algum tempo, alguns daqueles que cresceram conosco foram se espalhando pelo Estado e pelo País e nunca mais se teve notícias, ficando um vazio.
Precisávamos da janela ou atravessar a porta da casa para estabelecer relações, com gosto de puxar um banquinho, uma cadeira de praia no final da tarde da Primavera e do Verão e colocar as conversas em dia. Hoje, ligamos a televisão ou o computador e a família inteira tem a “janela” aberta para o Mundo, com o sentimento de que está sendo informada, formada e ainda se divertindo.
A grande preocupação era com o final de semana, pois reuníamos o grupo de jovens para a brincadeira de sábado à noite, a Missa de domingo pela manhã e o passeio à tarde, programa de índio enfrentado em grupo chegando ao final da tarde cansados, mas felizes, prontos para a segunda-feira e já na expectativa de um próximo final de semana.
Não sou saudosista, mas em tempos de carência de convívio, gravou-me a expressão de um amigo que disse haver tantas facilidades em casa que já não fazia muitas visitas. A família e a estrutura da casa lhe bastavam. Mas que tinha prometido para alguns parentes da esposa que iria procurá-los. Cobram-me uma visita conjunta a um colega que se afastou do trabalho, mas que sucessivos finais de semana - por uma desculpa ou outra - não acontece.
Em pleno século XXI, a facilidade dos meios de comunicação não estimulou o convívio, mas fez - absurdo dos absurdos - com que pessoas sob um mesmo teto usem mensagens eletrônicas para conversar. Muitas são as janelas abertas, mas falta puxar um banquinho e trazer o chimarrão para uma boa prosa, gastar tempo com o outro, pelo simples prazer de conviver.
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