Conheço o padre Alberto desde o tempo em que ele era o “irmão Alberto”, atuando no Colégio Gonzaga, na esquina com a Catedral de São Francisco de Paula, em Pelotas, onde atendia crianças da catequese. Mas sempre sobrava um tempinho para atravessar a rua e chegar ao Secretariado de Pastoral, onde mantivemos boas e agradáveis conversas. Depois, cada um seguiu sua vida e fiquei contente quando soube que ele alcançara um sonho: ser ordenado sacerdote. Um padre com discurso claro, forte, sempre incentivando as pessoas a buscarem uma espiritualidade forte, além de uma formação adequada, em especial, no caso, a fundamentação nos documentos da Igreja Católica.
Reencontrei-o nas oportunidades em que fui convidado para palestrar no Cenáculo (um retiro espiritual Mariano), onde foi, até recentemente, orientador espiritual. Continua a sê-lo, mas, agora, com idade avançada, precisa de outro sacerdote que o auxilie, pois a bengala já é um suporte, a energia já demanda maior atenção e a voz e a leitura precisam de cuidados. Num domingo frio pela manhã, encontrei-o lendo um dos documentos do Vaticano, antes de uma palestra. Tirava o sono dos eleitos. Tranqüilo, sereno, passando exatamente aquilo que fez durante toda a vida: a certeza de uma vida bem vivida, na santidade de quem entendeu no homem sua capacidade de superar barreiras, a cada momento, com a fé que se realiza no dia-a-dia.
Fiquei olhando para aquela figura e lembrando as diversas ocasiões em que teve que se afastar de suas atividades para tratamentos, especialmente na luta contra o câncer. Uma luta silenciosa, sem cobertura da imprensa, mas com a oração e o carinho de amigos granjeados ao longo de uma vida de testemunho. Claro que a lembrança me veio a partir do exemplo do vice-presidente José Alencar, que está permanentemente entrando e saindo de hospitais lutando pela vida. Em que os casos são parecidos¿ em ambos há o sentido de lutar pela vida que transcende apenas a duração da existência. Passa pela luta da dignidade própria e dos outros e de valores religiosos e espirituais impregnando a própria existência.
Tenho no padre Alberto um homem de Deus. Sei que foram muitas as lutas para chegar à idade que chegou com a lucidez de enfrentar os problemas próprios e dos outros sempre com a serenidade dos homens especiais. E homens especiais são aqueles que nos marcam pela capacidade de compreensão, pelo testemunho e pela fé que vivem e transpiram.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
sábado, 18 de julho de 2009
Braços abertos para a vida
Pode parecer pretensioso que entidades e igrejas de Pelotas direcionem esforços para a realização de um “Fórum de Cultura da Paz”, mas, ao invés de discursos, o que ouvi dos professores Veiga, Marco Antônio e Alessandra foram testemunhos de pessoas que lutam para que ações construam a diferença no dia-a-dia da família, da escola e da religião. Confesso que depois de tantas palestras, mediação em debates ou assistir, fui com o intuito de motivar, mas sem esperar nada de novo. Com um “ritmo quase parando”, o Veiga falou dos acertos e dos erros em família e cada uma de suas palavras calou fundo, passando pela experiência de consumo de droga de pessoas mais próximas e a certeza de que as vitórias são construídas no dia a dia. Com fé e muito carinho.
O professor Marco Antônio mostrou a experiência de sua escola em buscar a inserção em cada disciplina, assim como atividades ao ar livre, de uma cultura de paz. O início pelo próprio colégio e hoje quando outras instituições educacionais somam-se à sua experiência. E o toque final ao contar a experiências de familiares e de alunos, necessitando da família, dos amigos e de apoio na fé.
Quando pensei que mais nada tão comovente poderia ser dito, a professora Alessandra, de estrutura física reduzida, mas de espírito forte e batalhador, contou a experiência passada na Escola Lima e Silva, num dos bairros mais pobres de Pelotas, a Guabiroba. A motivação para as artes, os esportes, o incentivo à cidadania, como elementos fundamentais para ensinar valores e referências e, até mesmo, buscar jovens que experimentaram a droga. Uma das mães presentes deu o seu testemunho com relação ao trabalho na Guabiroba, dizendo que seus filhos passaram pelo crack, mas a persistência da professora Alessandra, dos professores e alunos havia trazido de volta os dois rapazes. E a luta, todos os dias, para se “manterem limpos”.
Não fiquei para a segunda parte dos trabalhos. Não precisava. Já estava envolvido pelo Fórum e disposto a fazer todo o possível para que ações de paz sejam implantadas. Em comum, a luta que precisa, urgentemente, de atenção: contra o consumo de drogas. Ou, como evitar que nossas crianças e jovens fiquem expostas a elas. Em todos os casos, carinho, presença, nada de supostas “lições”. E a certeza de que há uma volta, realizada todos os dias, na esperança de que filhos, sobrinhos, irmãos, netos encontrem Veigas, Marco Antônios e Alessandras de braços abertos para a vida.
O professor Marco Antônio mostrou a experiência de sua escola em buscar a inserção em cada disciplina, assim como atividades ao ar livre, de uma cultura de paz. O início pelo próprio colégio e hoje quando outras instituições educacionais somam-se à sua experiência. E o toque final ao contar a experiências de familiares e de alunos, necessitando da família, dos amigos e de apoio na fé.
Quando pensei que mais nada tão comovente poderia ser dito, a professora Alessandra, de estrutura física reduzida, mas de espírito forte e batalhador, contou a experiência passada na Escola Lima e Silva, num dos bairros mais pobres de Pelotas, a Guabiroba. A motivação para as artes, os esportes, o incentivo à cidadania, como elementos fundamentais para ensinar valores e referências e, até mesmo, buscar jovens que experimentaram a droga. Uma das mães presentes deu o seu testemunho com relação ao trabalho na Guabiroba, dizendo que seus filhos passaram pelo crack, mas a persistência da professora Alessandra, dos professores e alunos havia trazido de volta os dois rapazes. E a luta, todos os dias, para se “manterem limpos”.
Não fiquei para a segunda parte dos trabalhos. Não precisava. Já estava envolvido pelo Fórum e disposto a fazer todo o possível para que ações de paz sejam implantadas. Em comum, a luta que precisa, urgentemente, de atenção: contra o consumo de drogas. Ou, como evitar que nossas crianças e jovens fiquem expostas a elas. Em todos os casos, carinho, presença, nada de supostas “lições”. E a certeza de que há uma volta, realizada todos os dias, na esperança de que filhos, sobrinhos, irmãos, netos encontrem Veigas, Marco Antônios e Alessandras de braços abertos para a vida.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
O sentimento da indignação
Dona Águeda tem 78 anos. Lúcida, ágil, andava por toda a cidade fazendo as atividades de banco, compras, ou apenas passeando. Mas na semana passada ela teve um braço machucado e a alma ferida. Embora seguindo todas as “normas de segurança” – a bolsa junto ao corpo, zíper para frente, segura com firmeza – foi literalmente atropelada por um assaltante que não teve nenhuma preocupação em seguir os “itens de segurança” e deixou-a com o braço dolorido e, agora, com a perda da confiança de que podia fazer tudo sem temor de que algo lhe acontecesse, nas ruas por onde andou durante toda uma vida.
Roubaram os 465 reais da aposentadoria - e toda a sua documentação - com os quais contava para a alimentação e a compra dos remédios, já que os filhos mantêm os demais gastos. Mais do que isto, ficou em sua cabeça a dúvida e o medo de andar pelas ruas, tornando-a refém em sua própria casa, de onde não quer sair mais, a não ser até as grades que a separam da rua e trancando todas as portas e janelas, tão logo comece a escurecer.
Numa destas manhãs, num programa de televisão, um especialista em segurança apontava os cruzamentos de uma grande cidade – São Paulo – como um dos pontos mais problemáticos e onde acontece o maior número de assaltos. Cético diante destas “autoridades”, fiquei esperando que sugerisse a retirada dos cruzamentos! Mais ou menos como a história de que para não acontecer “algo a mais”, os pais retiram o sofá cama da sala, reduzindo os amassos amorosos!
Uma situação que beira o ridículo. Mas todas as técnicas ensinadas eram para beneficiar o ladrão: como guardar a bolsa, como entregar a carteira, como favorecer que este gastasse o menor tempo possível em sua “atividade profissional”, evitando a sua irritação e, consequentemente, que utilizasse de arma de fogo. Foi então que a apresentadora ficou indignada e colocou exatamente isto: como é que foram invertidos os papeis e aquilo que deveria ser um direito nosso – a segurança – transformou-se num pesadelo? Silenciaram o repórter e o especialista, porque não tinham o que dizer.
Dona Águeda não quer mais andar na rua. As pessoas circulam com os carros fechados, evitando assaltos. Enquanto isto, os meliantes andam livres, leves e soltos. E as nossas autoridades dão conselhos, mas ficam devendo ações efetivas que contenham o sentimento de indignação e de frustração pela futilidade como se perdem vidas e valores que deveríamos ter o direito de ver preservados.
Roubaram os 465 reais da aposentadoria - e toda a sua documentação - com os quais contava para a alimentação e a compra dos remédios, já que os filhos mantêm os demais gastos. Mais do que isto, ficou em sua cabeça a dúvida e o medo de andar pelas ruas, tornando-a refém em sua própria casa, de onde não quer sair mais, a não ser até as grades que a separam da rua e trancando todas as portas e janelas, tão logo comece a escurecer.
Numa destas manhãs, num programa de televisão, um especialista em segurança apontava os cruzamentos de uma grande cidade – São Paulo – como um dos pontos mais problemáticos e onde acontece o maior número de assaltos. Cético diante destas “autoridades”, fiquei esperando que sugerisse a retirada dos cruzamentos! Mais ou menos como a história de que para não acontecer “algo a mais”, os pais retiram o sofá cama da sala, reduzindo os amassos amorosos!
Uma situação que beira o ridículo. Mas todas as técnicas ensinadas eram para beneficiar o ladrão: como guardar a bolsa, como entregar a carteira, como favorecer que este gastasse o menor tempo possível em sua “atividade profissional”, evitando a sua irritação e, consequentemente, que utilizasse de arma de fogo. Foi então que a apresentadora ficou indignada e colocou exatamente isto: como é que foram invertidos os papeis e aquilo que deveria ser um direito nosso – a segurança – transformou-se num pesadelo? Silenciaram o repórter e o especialista, porque não tinham o que dizer.
Dona Águeda não quer mais andar na rua. As pessoas circulam com os carros fechados, evitando assaltos. Enquanto isto, os meliantes andam livres, leves e soltos. E as nossas autoridades dão conselhos, mas ficam devendo ações efetivas que contenham o sentimento de indignação e de frustração pela futilidade como se perdem vidas e valores que deveríamos ter o direito de ver preservados.
domingo, 5 de julho de 2009
Vencendo o cigarro
Estamos cercados, hoje, por campanhas que combatem as drogas ilícitas, mas são raras as entidades que falam das drogas lícitas. É o caso da Universidade Católica de Pelotas ao desenvolver a campanha “UCPel mais saudável“, mostrando os problemas causados pelo cigarro, tanto para quem consome, quanto para aquele que se torna fumante passivo, além de fazer as pessoas perderem a noção de respeito pelo seu semelhante, jogando fumaça em todas as direções.
“A saúde é minha e faço dela o que eu quiser”, foi o que ouvi de um entrevistado sobre as campanhas contrárias ao tabagismo. Há dois problemas nesta frase: ela é “umbigocêntrica” (coloca o mundo ao redor do seu umbigo) e, nos casos em que o fumante começa a degenerar, faz com que sua família tenha que arcar com responsabilidades desnecessárias numa outra opção de vida. Foi mais inteligente outro depoimento ao falar dos benefícios que conseguira, quando largou o cigarro: “faço de cada dia da minha vida um novo dia para estar longe do vício. E sinto meu corpo revigorado, consigo fazer coisas que não fazia sem palpitação e cansaço. Hoje, recuperei os sentidos do gosto e do odor”.
Tanto entre alunos, quanto entre professores, pude ver a felicidade daqueles que, por conta própria, ou com auxílio, conseguiram ficar livres do tabagismo “apenas por um dia a mais”. E é assim mesmo que acontece. Como em qualquer outro vício, num primeiro momento é preciso passar pela desintoxicação e, em seguida, viver dia a dia com a graça de que se venceu apenas um dia, para poder vencer por toda uma vida.
Quando o professor Roni Quevedo pediu que eu falasse respeito, achei estranho, pois nunca prestara atenção ao assunto. Observando campanhas em meios de comunicação e perguntando a respeito, tive a noção da gravidade do problema. Embora seja uma droga menor, seus efeitos são maléficos para o corpo, assim como para as relações sociais: pois se passa a achar que a fumaça não causa problemas, que “ninguém tem nada que ver com isto”, que eu “largo quando quiser”, ou se sai furtivamente para a rua para “um cigarrinho”...
A campanha está no caminho certo: faz bem à saúde do corpo, faz bem à higiene dos ambientes e libera energia. Energia que utilizada de outra forma pode render mais, quem sabe numa salutar experiência de viver livre de dependências, sentindo todos os gostos e odores oferecidos graciosamente pela natureza.
“A saúde é minha e faço dela o que eu quiser”, foi o que ouvi de um entrevistado sobre as campanhas contrárias ao tabagismo. Há dois problemas nesta frase: ela é “umbigocêntrica” (coloca o mundo ao redor do seu umbigo) e, nos casos em que o fumante começa a degenerar, faz com que sua família tenha que arcar com responsabilidades desnecessárias numa outra opção de vida. Foi mais inteligente outro depoimento ao falar dos benefícios que conseguira, quando largou o cigarro: “faço de cada dia da minha vida um novo dia para estar longe do vício. E sinto meu corpo revigorado, consigo fazer coisas que não fazia sem palpitação e cansaço. Hoje, recuperei os sentidos do gosto e do odor”.
Tanto entre alunos, quanto entre professores, pude ver a felicidade daqueles que, por conta própria, ou com auxílio, conseguiram ficar livres do tabagismo “apenas por um dia a mais”. E é assim mesmo que acontece. Como em qualquer outro vício, num primeiro momento é preciso passar pela desintoxicação e, em seguida, viver dia a dia com a graça de que se venceu apenas um dia, para poder vencer por toda uma vida.
Quando o professor Roni Quevedo pediu que eu falasse respeito, achei estranho, pois nunca prestara atenção ao assunto. Observando campanhas em meios de comunicação e perguntando a respeito, tive a noção da gravidade do problema. Embora seja uma droga menor, seus efeitos são maléficos para o corpo, assim como para as relações sociais: pois se passa a achar que a fumaça não causa problemas, que “ninguém tem nada que ver com isto”, que eu “largo quando quiser”, ou se sai furtivamente para a rua para “um cigarrinho”...
A campanha está no caminho certo: faz bem à saúde do corpo, faz bem à higiene dos ambientes e libera energia. Energia que utilizada de outra forma pode render mais, quem sabe numa salutar experiência de viver livre de dependências, sentindo todos os gostos e odores oferecidos graciosamente pela natureza.
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