Sexta com gosto de poesia:
Quando a chuva começar, para no meio da rua.
Ou diminui o passo, entra no ritmo da mudança do tempo
Que marca o breu da noite.
O cheiro da terra molhada preenchendo o ar,
Na brisa leve que embala o galho das árvores, fará
Sentires o privilégio de estar em sintonia com a Natureza.
Então, não corre ao sentir no corpo os primeiros pingos...
A vida que emana das coisas simples,
Escondidas no quotidiano das neuroses e preocupações.
Não te agonies quando raios, trovões e o vento
Curiscarem, ribombarem, açoitarem.
Andar sozinho sob a chuva é perceber
Que o Mundo ainda pode ser gentil.
Um momento privilegiado para se ouvir
Os passos na calçada molhada.
E brincar em suas poças é tudo do que se precisa.
Os pingos que se acumulam sobre folhas e flores
Cachoeiram umas, jogam ao chão as outras,
Desenhando as cores de todas as estações.
O Sol, ao dar a derradeira espiada sob as nuvens,
Será testemunho do teu choro, de ajoelhar-te, de bater palmas.
Não importa a reação.
Mesmo se apenas quedares em silêncio,
Entenderás que a chuva, removendo a maquiagem,
O perfume, lava todas as vaidades.
Desafiando a erguer o rosto, fechar os olhos e
sentir-se aspergido pela bênção de ainda respirar.