terça-feira, 26 de outubro de 2021

Refugiados e o sínodo: um missionário da esperança

Lesbos é uma ilha grega no nordeste do mar Egeu. Localizada em ponto estratégico entre países do Oriente Médio e a Europa, acabou sendo ocupada por refugiados que fogem das perseguições políticas, étnicas, religiosas ou, até, da fome, nos seus países. Cinco anos depois que o papa Francisco, junto com o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, esteve na área, num dos momentos mais delicados desta crise humanitária, o pontífice volta a programar viagem à Grécia, na qual quer visitar os campos de refugiados de onde levou para o Vaticano três famílias.

A viagem acontece pouco tempo depois que Francisco abriu o maior processo de consulta democrática da história da Igreja Católica, por meio de um sínodo, que lançará bases para o futuro da instituição. Serão dois anos de consultas, espaços de reflexão e debates abertos a fiéis do mundo inteiro, começando em 10 deste mês e seguindo até outubro de 2023. O tema proposto é “por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. A sinodalidade, ou como é dito na consulta para “caminhar juntos” é uma expressão relativamente fácil de ser dita… mas difícil de ser praticada.

E o papa sabe disto. Desde que lançou sua proposta de uma “Igreja em saída”, na exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, sofre muito com a ala conservadora da instituição que, silenciosa e persistente, vem conseguindo colocar de lado o espírito do concílio Vaticano II. Passados 60 anos, Francisco sente que é tempo de recuperar uma caminhada baseada em princípios evangélicos, com uma doutrina social capaz de lhe dar respaldo para as cobranças que faz no âmbito religioso, mas também no mundo da política, da economia e das relações internacionais.

O sínodo é um jeito de arrumar a casa. Mal comparando, é como uma família que vai viajar, mas precisa, antes, deixar tudo organizado. Se apenas uma pessoa fizer isto, demora muito tempo, mas se o grupo trabalhar unido fica mais fácil e melhor, podendo, depois, usufruir o prazer do convívio. Mesmo que toda a comparação seja manca (e é sempre preferível caminhar mancando do que não caminhar…), é a forma de dizer que, depois da crise do coronavírus, a Igreja, sob o comando de Francisco, tem uma oportunidade de mostrar a sua face de irmã responsável e solidária.

Lesbos e o sínodo são partes de um grande esforço de Francisco para renovar o rosto da Igreja. Mantendo as marcas da sua idade e a capacidade de expressar o que lhe vai no coração, que se transforma em solidariedade e esforço em caminhar junto com a humanidade, que vive suas alegrias e tristezas. Nas rotas por onde passam os migrantes ou por onde se dão as grandes discussões da sociedade, há uma figura que dá norte à embarcação, mesmo em meio às tormentas. Alguns até já colocaram salva-vidas, acreditando que, se não for feito como querem, o desastre é iminente…

Outubro, para cristãos católicos, é mês missionário: apresenta Jesus em missão e desafia seguidores a se desacomodar, sem proselitismo, nem deixar de falar o que viram e ouviram. Num Mundo cansado de falsos profetas, espetáculos midiáticos e contratestemunho, Francisco não cansa. Com 85 anos, possivelmente tenha mais dois ou três anos de atuação, quem sabe cinco, mas deixa sua marca: anda pelas periferias físicas e existenciais, toma nos braços - e por isto mesmo é condenado - suas dores e suas causas. Refugiados e o sínodo, o Mundo já tem o seu missionário da esperança!

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