domingo, 10 de outubro de 2021

Amanda é técnica em comunicação visual

Foi um inverno rigoroso. Além do frio, muita chuva e umidade. A Amanda, com dois meses, estava internada numa unidade de tratamento intensivo para crianças. Tinha nascido há pouco tempo, com dificuldades para respirar e aspirar, o que fazia simultaneamente e, como consequência, se engasgava. Combinei com minha sobrinha Vanessa e sua família que iriam visitá-la no horário da tarde e eu, voltando das aulas da Universidade, ficaria com o período da noite. Recebia no colo uma “trouxinha”, tendo que fazer tudo lentamente em função dos cateteres que a ajudavam a respirar.

Passaram 20 anos e, na noite da última quinta, assisti pela primeira vez uma formatura transmitida pelo YouTube. Não vou dizer que eu seja especialista em formatura, embora tenha sido lembrado em algumas como paraninfo, patrono ou professor homenageado. As longas e cansativas cerimônias agora dão lugar a atividades simples, mantendo todos os protocolos, passando pela apresentação, juramento, discurso do representante de turma, do paraninfo e da autoridade universitária presente. Tinha um outro compromisso, mas não resisti, assisti até o fim… e não me arrependi!

Lá estava a Amanda, recebendo o canudo de técnica integrada em Comunicação Visual. Também haviam formandos da graduação em Multimídia, do Campus do Instituto Federal Santa Catarina, Palhoça Bilíngue. A criança que tomava no colo com o máximo de delicadeza para não lhe causar mais sofrimentos, agora era uma bela mulher, flutuando num sorriso característico por sua simpatia, envolta no azul da sua tranquilidade. Nos 20 anos, juntos, fizeram diversas “formações” e a vida levou a que aprendessem que a família é e continha sendo, por toda uma vida, uma grande escola.

Uma escola onde as dificuldades financeiras, ter que ajudar a cuidar dos irmãos e da casa, também se constituem em desafio para os estudos. O início de um curso profissionalizante é, ainda, um “desmame” do que se passou. Surgem novas responsabilidades. Agora, as cobranças formais não são tão fortes, mas a necessidade de resultados impacta diretamente no bom aproveitamento das disciplinas e conteúdos. Momentos em que se precisa de privacidade, escondido em algum canto, para estudar, entender o que foi repassado e incorporar aos conhecimentos técnicos.

No entanto, ali, eu via um desfile de rostos jovens ainda surpresos que o tempo passou e venceram mais uma etapa da vida. Tentavam colocar em palavras o sentimento de que estavam deixando uma turma que, mal ou bem, durante longo período, foi companheira de jornada. E, aos professores, resta a eterna sensação de que, colocando no mundo mais um grupo para atuar no mercado, são filhos que a gente empurra para tomarem seus rumos, mas que gostaríamos de mantê-los por mais um pouco juntos... serão rostos, vozes, jeitos, que farão falta pelos corredores, pátios e salas de aula.

Que bom, Amanda. Teus esforços e, do jeito deles, também da tua família, deram certo. Tudo o que foi dito como motivação nas palavras dos colegas, paraninfos e direção do Instituto está coberto de razão. É uma mudança que, dificilmente, entenderão agora. Trocar de degrau significa amadurecer e encontrar perspectivas de uma vida adulta. Tios e primos não têm dúvida de que a “Amandinha” está construindo um sonho que vai virar realidade. Deixa que a gente esteja contigo, que façamos nosso os teus sonhos, como uma bênção que somente a vida é capaz de fazer com que vire realidade!

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