domingo, 5 de julho de 2020

Atitude: o entendimento da própria dor e da dor do outro...

O Desafio Farroupilha (RBS TV) deste ano tem como tema "Conte Comigo". No sábado (dia 4) apresentaram os primeiros passos para se reinventar e fazer a produção das apresentações de grupos artísticos gaúchos de forma virtual. A motivação será a atuação dos profissionais da saúde em tempos de pandemia e - para iniciar bem - trouxeram o depoimento do jovem que foi o paciente número 1 a vencer o coronavírus e um de seus cuidadores.
Reticentes, no início, foram se reconhecendo pela voz, já que tiveram longo período com protetores, que impedia a identidade facial. O difícil caminho foi vencido pela determinação de quem adoeceu, assim como daqueles considerados pelos artistas como "super heróis", dispostos a fazer de tudo para recuperar uma vida. Se preciso - em muitos casos - sem medir sacrifícios, para ver, um por um, percorrer os corredores em direção à porta de saída dos hospitais e ter a certeza de que a experiência mudou a própria existência.
Na quinta-feira, fizemos a live "Partilhando", da arquidiocese de Pelotas. Destaquei, com o padre Marcus Bicalho, que esta determinação chama-se atitude e lembrei a primeira experiência litúrgica com o religioso, quando, no aniversário de morte da minha mãe, fui à Missa no Carmelo. 7 da manhã, acreditei estar meio dormindo quando vi o padre acessar o altar devidamente paramentado, mas descalço. Repensei conceitos para entender que, naquele ambiente, impregnado de oração e simplicidade, o comportamento condizia com o meio.
Seus depoimentos me levaram à última pergunta: como tratar de populações num pós pandemia em que estarão mais pobres e as instituições enfrentando mais dificuldades (ele é dirigente do Instituto de Menores - que tem como lema "Ele não pesa, é meu irmão") . Contou que no dia em que foi impedida a continuidade do atendimento dos menores na casa resolveu abrir as dispensas, distribuir a alimentação estocada e pedir à sociedade que auxiliasse uma área extremamente carente - o "fundão do Areal". Até agora, já foram entregues mais de 3.500 cestas básicas...
Relembrou a passagem bíblica do paralítico de Cafarnaum. Quando Jesus chega à casa de São Pedro e acorre tanta gente que fica difícil aproximar-se. No entanto, quatro homens que acompanham o paciente, depois de muitas tentativas frustradas, sobem ao telhado e, de lá, descem a maca até o Mestre... O interessante é a ótica pela qual se pode ver este momento: há uma multidão que não abre caminho, que tranca a possibilidade de que uma pessoa doente tenha a chance de cura...
Aproveitava o texto para mostrar que, muitas vezes, o comportamento, até dos "bons", não é de quem abre caminho e permite que alguém mais necessitado chegue à resolução do seu problema. Podemos ser "tranqueiras" - em todos os sentidos - na vida dos outros. O paralítico tinha amigos e parentes de atitude, a mesma que estamos precisando agora que se aproxima um momento crucial da pandemia do coronavírus.
Quem assiste televisão, tem amigos ou conhecidos trabalhando na área da saúde, testemunhou que vivem momentos difíceis... quem já ouviu depoimento de pacientes curados sabe das dores e agonias passadas até a recuperação, especialmente pela falta de ar... aceitar as normas de higiene social e atender às autoridades públicas, neste momento, é atitude que abre caminhos e possibilita a esperança... Vamos sair desta: mais sofridos, mais calejados, quem sabe, ressiginificando nossas relações e, no entendimento da própria dor e da dor dos outros, até, mais humanos...

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