A forma mais fácil das pessoas se acomodarem ao destino é apostar em máximas batidas de que tudo já está determinado e que, por fatalidade, o que tem que acontecer acontecerá. Como consequência, nos eximimos de responsabilidades e criamos um deus que traçou um roteiro, sem que se possa mudar a sequência das cenas. Somos refém de uma divindade que manipula seus cordéis.
Não é verdade. A história está cheia de pessoas com dificuldades em família, problemas sociais, mas, com garra, superam tudo e mudam seu futuro. Negando um dos seus mandamentos, por exemplo, de que quem nasce pobre vai morrer assim.
Num programa de rádio, sábado pela manhã, o apresentador contou a história de um vendedor de jornais no centro de Porto Alegre. Depois de alguma conversa ficou impressionado com a clareza de pensamento. Uma frase o convenceu a dar ainda mais atenção: "entre a arma e o livro, eu escolhi o livro."
O rapaz afirmou que ele mesmo fez as suas escolhas. Saindo do Morro, havia muitas histórias tristes para serem contadas. Como reconheceu: "dos meus amigos, muitos já estão na prisão. Outros acabaram mortos".
O fato de ser pobre e viver na periferia da cidade não o fez desistir. No horizonte dos seus sonhos há uma etapa importante: "quero estudar e vou chegar à faculdade". Com um grito de alerta e um pedido de socorro: "o que eu preciso é de uma oportunidade!"
Não sei o nome do personagem. No entanto, comprovou que alimentar o sonho é dar uma injeção de ânimo na esperança. Pela personalidade demonstrada tem consciência de que a maior de todas as vitórias não é a que arranca reconhecimento público e aplausos. Mas a que faz a gente se sentir melhor no dia a dia: alcança paz de espírito e a certeza de que me tornei melhor. E posso ser ainda melhor!O rapaz pede - endossado pelo apresentador - uma oportunidade. Estudar e dar outros passos na vida. Numa época de desemprego, a força de vontade revela o potencial de um jovem desejando provar que, assim como cada um de nós - num passado não tão distante - idealizou uma vida que merece e julga ser capaz de concretizar.
Não se pode desperdiçar sonhos e deixar sem horizonte quem pede o direito de caminhar no rumo que idealizou. Já intuiu: negar a história é ser incapaz de construir a própria identidade. O que vai ser, não se sabe. Tem todos os elementos nas mãos para comprovar que fez a opção certa: entre o livro e a arma, aceitou o desafio do conhecimento. A sociedade precisa lhe mostrar que fez a escolha certa!
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