Há algum tempo prefiro os dias que antecedem o Natal e Ano Novo do que as festividades propriamente ditas. Explico: o mês de dezembro reúne uma série de elementos, que propiciam um clima diferente. Final das aulas, término de muitas atividades, início do Verão, chegadas e despedidas...
Tem ainda o mundo dos comerciais, em que a turma se esmera em arrumar as situações fofas quando é quase impossível não derramar uma lágrima. Alguns temas se repetem, com nova faceta: dramas familiares, separações, perdas, ausências... Ou fazem novos enfoque para pessoas especiais, mostrando que tratar um deficiente físico ou psicológico é, mais do que uma opção terapêutica, a prova de que ainda há esperança na humanidade.
Existem, também, as instituições que se mobilizam para iluminar o olhar de uma criança com um simples brinquedo ou uma cesta básica reforçada que auxilie a família a ter alguns momentos para deixar de lado as agruras destes tempos bicudos.
Do que vi nestes últimos dias, revelado por uma instituição que recebe cartas de crianças, destacava-se um pedido simples: que o pai conseguisse arrumar um "bico", já que emprego estava difícil e as coisas iam mal em casa.
Fiquei pasmo. Uma criança que chegou a tantas dificuldades que nem se anima a pedir um emprego, mas sim um “bico”? Para ter este nível de consciência é porque viu o que não deveria ter visto: a perda de esperança na capacidade dos pais de conseguir uma atividade que dê segurança ao grupo familiar.
Num momento de tantas dificuldades, em que a descrença nas instituições é flagrante, preocupa que as crianças estejam sofrendo junto. Um sofrimento que deixa marcas por muitas gerações. O fruto do desencanto naqueles que deveriam lhe proporcionar o suporte necessário para serem preservadas dos problemas sociais.
Estamos há poucos dias do Natal. Mesmo que nós adultos – muitas vezes – tenhamos motivos para pensar que já poderíamos dispensar estas festividades, sabemos que não é assim. Não se vive o Natal por uma questão pessoal. É um tempo de altruísmo. Especialmente para as crianças... e os idosos!
Não importa há quanto tempo você não acredita em Papai Noel. Importa que todos nós nos alimentamos de fé e esperança. A fé e esperança que sobrevive num pedido de criança que vê num "bico" a possibilidade da família viver melhor o sentido deste Natal. Afinal, como diz um dos comerciais: "o Natal é especial porque a gente volta a enxergar os sonhos!"
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