Véspera de Natal. A família esteve reunida e iria sair para continuar a comemoração com amigos. Dona Nilza ficaria em casa. Do alto dos seus 90 anos, queria descansar. A filha acompanhou até seu quarto, ajudou na troca de roupa e a tomar a última medicação do dia. Na volta, antes de se recolher, a caçula passaria para dar uma espiada e apagar a luz do corredor.
Tudo aconteceu conforme o previsto. Mas... Algum tempo depois de deitar, começou a faltar o ar, uma dor intensa no peito e a impossibilidade de alcançar a campainha que ficava na cabeceira. A filha até passou no quarto, mas achou que a mãe estava dormindo e não quis incomodar.
Na manhã seguinte, não conseguindo resposta da idosa, o chamado para a emergência e a constatação: durante a noite tivera um AVC (derrame, como diriam os antigos). Um longo caminho percorrido até recuperar alguns movimentos e articular de forma inteligível a voz.
Depois de algum tempo - para a filha - acabou contando o que aconteceu. A família esperava detalhes dos sintomas do acidente vascular, mas a idosa narrou o que passou por seu pensamento diante do que sentiu ser a proximidade do fim. Primeiro, a sensação de solidão - a dor mais forte e profunda - quando pensou no quanto desejava desencarnar tendo ao lado alguém da família.
Rezou. Não tinha medo de morrer. Era Natal, a festa do Menino Deus, a festa da família, não queria deixar este Mundo envolta em tristeza. Teve conforto ao balbuciar a primeira oração que aprendeu: “Santo Anjo do Senhor...” O frio foi passando e suas mãos sentiram que, mesmo não se movendo, eram envolvidas por uma energia vinda do consolo da fé.
Não estava sozinha. Ainda não chegara a sua hora. Voltou à sua mente versos que adorava cantar: “segura na mão de Deus...” Encontrou forças para esperar a manhã. Quando a acomodaram na ambulância, olhos fechados e um sorriso nos lábios (apenas um reflexo do AVC?). Murmurou: “filha, eu segurei a mão de Deus!”
Era Natal. Tempo especial para contar com a presença daqueles que se ama. Também para cultivar a fé: a experiência de Deus, vivenciando a esperança. Não há sentido em ser Natal sem que se sinta o amor de Quem não nega o direito de se ter uma segunda chance. Possivelmente a que nem se espera mais, porque a que vence medos e mostra os caminhos que levam à vida...
Nossa coroa do Advento já tem o Menino Deus e uma "Mamãe Especial" (dona França) cuidando. Desejamos uma abençoada Semana Natalina!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário