Foi entrevistada na véspera do Natal. Deixara uma família que perdeu um membro em acidente. Entrou em campo e, mesmo sabendo que a situação era difícil, pelo momento que os parentes viviam, era preciso agilidade a fim de conseguir a autorização para doação de órgãos. Sentia que estava próxima de ter sucesso.
Os repórteres listaram profissões que atuariam durante os feriados. Esta enfermeira era uma especialista em abrir caminhos para doação. Conhecer a família, mostrar-se solidária, mas também o outro lado: a fila de quem aguarda. A quantidade de pessoas beneficiadas com apenas um doador.
Estava iniciando uma semana longa e penosa. De um lado, o convívio com a perda e a dor. De outro, possibilitar o ressurgimento de uma vida, sair, muitas vezes, de um existir vegetativo. Ponderou que, mesmo sendo uma semana de festas, o que fazia era parte da rotina. Ganhava sentido pela repetição que nunca era a mesma, mas o encerramento de um ciclo e o emergir da esperança.
Por outro lado, o vídeo de um banco desejando felicidades em 2017. A carta de uma vovó que agradece aos netos por ter sido introduzida no mundo da internet. A voz embargada avisa: "vou ensinar vocês a lidar com dois aparelhos muito mais complicados - o tempo e a vida. E a primeira coisa que vocês precisam saber é que a vida é muito mais importante do que o tempo. Quando tiverem a minha idade vão se dar conta de que a gente não lembra tanto assim do tempo que passou, mas lembra de cada momento que viveu, não importa quanto tempo tenha passado".
Deixa uma das mais belas mensagens deste final de ano: "o tempo vale por aquilo que a gente faz com ele. E a coisa mais importante da vida não são as horas e os minutos, são os momentos que se vive juntos".
A enfermeira representa a capacidade de alguém ser, mais do que um profissional, alguém preocupada em fazer viver e sobreviver. Mesmo que não saiba, a explicação para o que ela reconhece que a faz feliz está exatamente nas palavras da vovó: "o tempo vale por aquilo que a gente faz com ele".
Um Ano Novo não traz a garantia de 365 dias de novidades. O que importa é fazer este tempo ser diferenciado pela intensidade com que se vive. A rotina que mata a energia é aquela do que não se faz. De um simples olhar, passando por um sorriso, até um abraço, são infinitas as matizes que capacitam para a maior de todas as experiências: apenas - e tão somente - fazer e ser feliz!
domingo, 25 de dezembro de 2016
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
"Eu segurei a mão de Deus!"
Véspera de Natal. A família esteve reunida e iria sair para continuar a comemoração com amigos. Dona Nilza ficaria em casa. Do alto dos seus 90 anos, queria descansar. A filha acompanhou até seu quarto, ajudou na troca de roupa e a tomar a última medicação do dia. Na volta, antes de se recolher, a caçula passaria para dar uma espiada e apagar a luz do corredor.
Tudo aconteceu conforme o previsto. Mas... Algum tempo depois de deitar, começou a faltar o ar, uma dor intensa no peito e a impossibilidade de alcançar a campainha que ficava na cabeceira. A filha até passou no quarto, mas achou que a mãe estava dormindo e não quis incomodar.
Na manhã seguinte, não conseguindo resposta da idosa, o chamado para a emergência e a constatação: durante a noite tivera um AVC (derrame, como diriam os antigos). Um longo caminho percorrido até recuperar alguns movimentos e articular de forma inteligível a voz.
Depois de algum tempo - para a filha - acabou contando o que aconteceu. A família esperava detalhes dos sintomas do acidente vascular, mas a idosa narrou o que passou por seu pensamento diante do que sentiu ser a proximidade do fim. Primeiro, a sensação de solidão - a dor mais forte e profunda - quando pensou no quanto desejava desencarnar tendo ao lado alguém da família.
Rezou. Não tinha medo de morrer. Era Natal, a festa do Menino Deus, a festa da família, não queria deixar este Mundo envolta em tristeza. Teve conforto ao balbuciar a primeira oração que aprendeu: “Santo Anjo do Senhor...” O frio foi passando e suas mãos sentiram que, mesmo não se movendo, eram envolvidas por uma energia vinda do consolo da fé.
Não estava sozinha. Ainda não chegara a sua hora. Voltou à sua mente versos que adorava cantar: “segura na mão de Deus...” Encontrou forças para esperar a manhã. Quando a acomodaram na ambulância, olhos fechados e um sorriso nos lábios (apenas um reflexo do AVC?). Murmurou: “filha, eu segurei a mão de Deus!”
Era Natal. Tempo especial para contar com a presença daqueles que se ama. Também para cultivar a fé: a experiência de Deus, vivenciando a esperança. Não há sentido em ser Natal sem que se sinta o amor de Quem não nega o direito de se ter uma segunda chance. Possivelmente a que nem se espera mais, porque a que vence medos e mostra os caminhos que levam à vida...
Nossa coroa do Advento já tem o Menino Deus e uma "Mamãe Especial" (dona França) cuidando. Desejamos uma abençoada Semana Natalina!!!
Tudo aconteceu conforme o previsto. Mas... Algum tempo depois de deitar, começou a faltar o ar, uma dor intensa no peito e a impossibilidade de alcançar a campainha que ficava na cabeceira. A filha até passou no quarto, mas achou que a mãe estava dormindo e não quis incomodar.
Na manhã seguinte, não conseguindo resposta da idosa, o chamado para a emergência e a constatação: durante a noite tivera um AVC (derrame, como diriam os antigos). Um longo caminho percorrido até recuperar alguns movimentos e articular de forma inteligível a voz.
Depois de algum tempo - para a filha - acabou contando o que aconteceu. A família esperava detalhes dos sintomas do acidente vascular, mas a idosa narrou o que passou por seu pensamento diante do que sentiu ser a proximidade do fim. Primeiro, a sensação de solidão - a dor mais forte e profunda - quando pensou no quanto desejava desencarnar tendo ao lado alguém da família.
Rezou. Não tinha medo de morrer. Era Natal, a festa do Menino Deus, a festa da família, não queria deixar este Mundo envolta em tristeza. Teve conforto ao balbuciar a primeira oração que aprendeu: “Santo Anjo do Senhor...” O frio foi passando e suas mãos sentiram que, mesmo não se movendo, eram envolvidas por uma energia vinda do consolo da fé.
Não estava sozinha. Ainda não chegara a sua hora. Voltou à sua mente versos que adorava cantar: “segura na mão de Deus...” Encontrou forças para esperar a manhã. Quando a acomodaram na ambulância, olhos fechados e um sorriso nos lábios (apenas um reflexo do AVC?). Murmurou: “filha, eu segurei a mão de Deus!”
Era Natal. Tempo especial para contar com a presença daqueles que se ama. Também para cultivar a fé: a experiência de Deus, vivenciando a esperança. Não há sentido em ser Natal sem que se sinta o amor de Quem não nega o direito de se ter uma segunda chance. Possivelmente a que nem se espera mais, porque a que vence medos e mostra os caminhos que levam à vida...
Nossa coroa do Advento já tem o Menino Deus e uma "Mamãe Especial" (dona França) cuidando. Desejamos uma abençoada Semana Natalina!!!
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Um "bico" de Natal
Há algum tempo prefiro os dias que antecedem o Natal e Ano Novo do que as festividades propriamente ditas. Explico: o mês de dezembro reúne uma série de elementos, que propiciam um clima diferente. Final das aulas, término de muitas atividades, início do Verão, chegadas e despedidas...
Tem ainda o mundo dos comerciais, em que a turma se esmera em arrumar as situações fofas quando é quase impossível não derramar uma lágrima. Alguns temas se repetem, com nova faceta: dramas familiares, separações, perdas, ausências... Ou fazem novos enfoque para pessoas especiais, mostrando que tratar um deficiente físico ou psicológico é, mais do que uma opção terapêutica, a prova de que ainda há esperança na humanidade.
Existem, também, as instituições que se mobilizam para iluminar o olhar de uma criança com um simples brinquedo ou uma cesta básica reforçada que auxilie a família a ter alguns momentos para deixar de lado as agruras destes tempos bicudos.
Do que vi nestes últimos dias, revelado por uma instituição que recebe cartas de crianças, destacava-se um pedido simples: que o pai conseguisse arrumar um "bico", já que emprego estava difícil e as coisas iam mal em casa.
Fiquei pasmo. Uma criança que chegou a tantas dificuldades que nem se anima a pedir um emprego, mas sim um “bico”? Para ter este nível de consciência é porque viu o que não deveria ter visto: a perda de esperança na capacidade dos pais de conseguir uma atividade que dê segurança ao grupo familiar.
Num momento de tantas dificuldades, em que a descrença nas instituições é flagrante, preocupa que as crianças estejam sofrendo junto. Um sofrimento que deixa marcas por muitas gerações. O fruto do desencanto naqueles que deveriam lhe proporcionar o suporte necessário para serem preservadas dos problemas sociais.
Estamos há poucos dias do Natal. Mesmo que nós adultos – muitas vezes – tenhamos motivos para pensar que já poderíamos dispensar estas festividades, sabemos que não é assim. Não se vive o Natal por uma questão pessoal. É um tempo de altruísmo. Especialmente para as crianças... e os idosos!
Não importa há quanto tempo você não acredita em Papai Noel. Importa que todos nós nos alimentamos de fé e esperança. A fé e esperança que sobrevive num pedido de criança que vê num "bico" a possibilidade da família viver melhor o sentido deste Natal. Afinal, como diz um dos comerciais: "o Natal é especial porque a gente volta a enxergar os sonhos!"
Tem ainda o mundo dos comerciais, em que a turma se esmera em arrumar as situações fofas quando é quase impossível não derramar uma lágrima. Alguns temas se repetem, com nova faceta: dramas familiares, separações, perdas, ausências... Ou fazem novos enfoque para pessoas especiais, mostrando que tratar um deficiente físico ou psicológico é, mais do que uma opção terapêutica, a prova de que ainda há esperança na humanidade.
Existem, também, as instituições que se mobilizam para iluminar o olhar de uma criança com um simples brinquedo ou uma cesta básica reforçada que auxilie a família a ter alguns momentos para deixar de lado as agruras destes tempos bicudos.
Do que vi nestes últimos dias, revelado por uma instituição que recebe cartas de crianças, destacava-se um pedido simples: que o pai conseguisse arrumar um "bico", já que emprego estava difícil e as coisas iam mal em casa.
Fiquei pasmo. Uma criança que chegou a tantas dificuldades que nem se anima a pedir um emprego, mas sim um “bico”? Para ter este nível de consciência é porque viu o que não deveria ter visto: a perda de esperança na capacidade dos pais de conseguir uma atividade que dê segurança ao grupo familiar.
Num momento de tantas dificuldades, em que a descrença nas instituições é flagrante, preocupa que as crianças estejam sofrendo junto. Um sofrimento que deixa marcas por muitas gerações. O fruto do desencanto naqueles que deveriam lhe proporcionar o suporte necessário para serem preservadas dos problemas sociais.
Estamos há poucos dias do Natal. Mesmo que nós adultos – muitas vezes – tenhamos motivos para pensar que já poderíamos dispensar estas festividades, sabemos que não é assim. Não se vive o Natal por uma questão pessoal. É um tempo de altruísmo. Especialmente para as crianças... e os idosos!
Não importa há quanto tempo você não acredita em Papai Noel. Importa que todos nós nos alimentamos de fé e esperança. A fé e esperança que sobrevive num pedido de criança que vê num "bico" a possibilidade da família viver melhor o sentido deste Natal. Afinal, como diz um dos comerciais: "o Natal é especial porque a gente volta a enxergar os sonhos!"
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
Um sonho e uma lenda
Muitas lições ficam com a tragédia acontecida com os integrantes da delegação da Chapecoense. Durante um bom tempo ainda vai se discutir o que aconteceu, especialmente as causas que levaram à morte de tantos jovens, lideranças do setor esportivo de Chapecó e dos meios de comunicação local e nacional.
As vidas foram ceifadas porque a empresa responsável pelo avião resolveu economizar. Para diminuir custos - o necessário para uma reserva de emergência - resultou na volta para o Brasil de dezenas de corpos que não sobreviveram à queda do avião que precisou ficar no ar mais tempo do que tinham "planejado" e teve constatado que não havia mais combustível armazenado.
A esposa do comandante - também proprietário da companhia aérea - disse que o marido não pode ser responsabilizado porque morreu junto. Como assim? Parece aquela história antiga que, depois de morto, vira "bonzinho" automaticamente! Mesmo morrendo junto, não pode ser eximido de responsabilidade. É claro que na Justiça, não podendo arcar com o peso de uma condenação, o deve a própria empresa.
Agora que se torna público o processo de contratação da companhia, surgem detalhes. Fica o fato de que o comandante acreditava que, por suposta perícia, conseguiria fazer um voo com o combustível no limite e... apostava na sorte. A sorte não lhe sorriu e, como dizia um conhecido, neste caso, "a economia foi a base da porcaria".
Dando certo, embolsaria para a sua empresa a importância que já devia ter colocado no plano de voo e, consequentemente, usufruiria de outra forma. Acabou carimbando como o preço de 71 vidas, inclusive a sua. Banalizou a própria existência, assim como criou uma comoção internacional, por não entender a outra lição que também se tira do infortúnio: a capacidade do povo colombiano de ser solidário e respeitoso.
Grandes lições: um menino, nas montanhas, conduziu o resgate para encontrar mais um com vida; ofertas de carros, para acessar os lugares mais difíceis; serviços de segurança que vestiram, literalmente, a camiseta da Chapecoense; autoridades que deram ao Mundo uma cerimônia simples mas encantadora e a presença do povo que talvez nem saiba onde fica Chapecó, mas foi solidário na dor.
O olhar carinhoso dos colombianos encantou e consolou. Foi bem maior do que as mesquinharias de quem preferiu arriscar vidas para ganhar vantagens numa economia sórdida. Hoje, não conseguimos ver com clareza os fatos que vão virar História. Mas é certo o que publicou um site do Atlético de Medellin: os rapazes da Chapecoense "vieram por um sonho. Partiram como uma lenda". Descansem em Paz!
As vidas foram ceifadas porque a empresa responsável pelo avião resolveu economizar. Para diminuir custos - o necessário para uma reserva de emergência - resultou na volta para o Brasil de dezenas de corpos que não sobreviveram à queda do avião que precisou ficar no ar mais tempo do que tinham "planejado" e teve constatado que não havia mais combustível armazenado.
A esposa do comandante - também proprietário da companhia aérea - disse que o marido não pode ser responsabilizado porque morreu junto. Como assim? Parece aquela história antiga que, depois de morto, vira "bonzinho" automaticamente! Mesmo morrendo junto, não pode ser eximido de responsabilidade. É claro que na Justiça, não podendo arcar com o peso de uma condenação, o deve a própria empresa.
Agora que se torna público o processo de contratação da companhia, surgem detalhes. Fica o fato de que o comandante acreditava que, por suposta perícia, conseguiria fazer um voo com o combustível no limite e... apostava na sorte. A sorte não lhe sorriu e, como dizia um conhecido, neste caso, "a economia foi a base da porcaria".
Dando certo, embolsaria para a sua empresa a importância que já devia ter colocado no plano de voo e, consequentemente, usufruiria de outra forma. Acabou carimbando como o preço de 71 vidas, inclusive a sua. Banalizou a própria existência, assim como criou uma comoção internacional, por não entender a outra lição que também se tira do infortúnio: a capacidade do povo colombiano de ser solidário e respeitoso.
Grandes lições: um menino, nas montanhas, conduziu o resgate para encontrar mais um com vida; ofertas de carros, para acessar os lugares mais difíceis; serviços de segurança que vestiram, literalmente, a camiseta da Chapecoense; autoridades que deram ao Mundo uma cerimônia simples mas encantadora e a presença do povo que talvez nem saiba onde fica Chapecó, mas foi solidário na dor.
O olhar carinhoso dos colombianos encantou e consolou. Foi bem maior do que as mesquinharias de quem preferiu arriscar vidas para ganhar vantagens numa economia sórdida. Hoje, não conseguimos ver com clareza os fatos que vão virar História. Mas é certo o que publicou um site do Atlético de Medellin: os rapazes da Chapecoense "vieram por um sonho. Partiram como uma lenda". Descansem em Paz!
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