Em diversas discussões pelo país, a questão é: cumpre-se ou não se cumprem as leis? A que ponto chegamos! Esta é uma questão que nunca deveria ser proposta. Se a lei foi pensada seriamente por um parlamentar ou por um grupo da sociedade organizada e cumpriu todas as suas etapas até estar madura, deve valer para todos, tendo como consequência, no seu descumprimento, a qualificação como falta ou crime e a competente sanção.
Infelizmente, a relativização é tão grande que criamos uma expressão temerária que é: “tem lei que pega e tem lei que não pega”. Como assim? Sendo lei, a fiscalização, em todos os níveis, deve ser acionada e fazer valer o que está escrito. Sem discriminação. Mas, infelizmente, fomos nos deseducando para o convívio social e, hoje, vale o bordão do jogador de futebol, Gerson, que, na década de 70, dizia: “é preciso levar vantagem em tudo, certo!?”
Tive uma amiga indignada, no final de semana, porque o filho caiu numa blitz de trânsito e, por irregularidades, teve o carro apreendido. Cheia de razão, dizia: “vão perseguir os cidadãos honestos e deixam de prender os ladrões”. A chamada “moral de cueca”: sendo para os outros, vale; para os meus, não é bem assim.
Infelizmente, são estas coisas que se passam para nossos filhos e alunos. Foi julgado o “mensalão”? foi. Alguém foi preso? Não. E tudo conspira para que não sejam presos. Morreram mais de duzentos, em Santa Maria? Morreram. Já se começa a ver alguém em direção à cadeia? A coisa tá esfriando e, se não for a persistência dos pais e parentes dos jovens, é bem provável que nada aconteça.
De igual forma, um exemplo que deixa chocado e deveria indignar veio quando pessoas inescrupulosas resolveram adulterar o leite não apenas com água (o que já era sabido), mas com elementos químicos, que possibilitam o desenvolvimento de câncer. Numa das gravações, o mandante, se julgando acima da lei, pedia que os executores separassem o leite bom para dar para seus filhos! Mas colocava no caminho da morte os filhos dos demais consumidores de um produto tão importante no desenvolvimento das crianças.
A decepção e a falta de capacidade de indignação nos levaram ao atual estágio em que vivemos: elegemos para o executivo e legislativo, mas não acreditamos que eles vão dar resposta adequada aos nossos problemas. Acumulamos decepções e estamos chegando ao fundo do posso. A volta é um caminho longo que vai levar gerações e que depende de educação e conscientização. Num tempo em que a corrupção anda a jato, enquanto iniciativas para reverter este processo são lentas, deveríamos lutar para que se aplicasse a velha máxima: “dura é a lei, mas é a lei”.
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