segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A síndrome da esperança

Aqueles que me conhecem sabem que sou avesso a festas. Não sei se chega a ser uma síndrome, mas onde junta uma “multidão” com mais de dez pessoas, se me virem no meio é porque algum problema existe. Tudo piora com o Natal e Ano novo, quando aparece a “síndrome do final de ano”. Pensei que eu fosse o seu único portador, mas ao iniciar 2010 ouvi relatos interessantes de pessoas na mesma situação: as festas lhe doíam por terem perdido um emprego um pouco antes; pessoas que sempre estiveram juntas, agora estão ausentes; ou porque o chamado espírito de Natal está apanhando feio do espírito comercial, fazendo com que mais crianças saibam que há um Papai Noel, mas desconhecem a figura do menino Jesus.
Já ouvira história parecida, mas a pessoa que perdeu o emprego, numa situação que considera injusta, amargou as festas com um gosto de desilusão na boca. Era tão difícil se acostumar com a situação que precisava se manter permanentemente em atividade: se precisava comprar três coisas no centro da cidade, fazia três “viagens”, pois era assim que se mantinha ocupada e conseguia desviar o pensamento do que acontecera.
As perdas físicas também são muito difíceis. A morte é a pior, pois nos marca de tal forma que somos capazes de lembrar pequenos detalhes, pequenos costumes, até pequenas manias daqueles que faltam. Mas há, também, aqueles que, por diversos motivos, saem para morar longe. E famílias que eram numerosas, ruidosas em cada um destes momentos festivos, passam a se ver reduzidas a um mínimo e - embora se valorize a presença - sobra a mágoa da ausência. Neste momento são feitas avaliações e uma delas é a das desilusões sofridas. Neste caso estão as relações afetivas, de trabalho, familiares... As marcas que não deixam cicatrizes na carne, mas no coração, e que fazem rugas espirituais mais em nossas almas do que em nossos rostos.
Tomara que de todas as síndromes, de todas as marcas, aquela que nunca deixe o nosso semblante seja o de viver da esperança, de acreditar que tudo pode recomeçar, na certeza da fé, por pequena que seja, tremulando num recanto escondido, pronta a reviver, até naqueles que, algum dia, por algum motivo, nos desapontaram.

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