Cerca de doze anos atrás, logo que me aposentei, precisei fazer uma cirurgia para a retirada de um câncer de próstata. Creio que vocês sabem da "valentia" dos homens para enfrentar esta situação. Exatamente eu que, quando a gripe está chegando na esquina, já estou embaixo das cobertas, pedindo atendimento hospitalar… Foi tudo bem, com a recuperação relativamente rápida. E os exames posteriores mostraram que não seria necessário rádio ou quimioterapia.
Como efeito colateral, aproveitei a prescrição do uso de medicação incompatível com o álcool para deixar de vez a bebida. “A ocasião que faz o ladrão”. Foram muitos anos de consumo sistemático. Entre amigos e familiares, cunhei o mantra de que "nesta encarnação, já havia consumido todas" ou "de agora em diante, nem vinho de Missa". A consequência foi que passei a ser convidado para "motorista da rodada", aquele que dirige enquanto os demais bebem.Não sou um pregador da abstinência do álcool. Até acho engraçado quando as pessoas dizem que podem parar e já estão aumentando e sistematizando as doses… Aprendi que deixar a bebida ou qualquer outra atitude que impacte a vida pessoal e social passa pelo autoconvencimento: “deu, já passei da conta”. Infelizmente, às vezes se chega a esta noção tardiamente. Quando já se transformou a vida num inferno, além de infernizar a vida dos outros, especialmente os mais próximos.
O melhor é não se expor ao perigo (especialmente dos “amigos da onça” que dizem: “de vez em quando não faz mal!”, mas depois te abandonam), a consciência de que se é, para sempre, um dependente alcoólico. Precisando estar, como os escoteiros, “sempre alerta”. Buscando nas pequenas alegrias do convívio o sentido de se manter sóbrio. E o passar do tempo dá a justa medida do que se perdeu profissionalmente, nas relações sociais e especialmente nas relações familiares.
Um passeio à serra gaúcha colocou em teste a compulsão pelas bebidas alcoólicas. Fiquei contente em acompanhar a degustação de vinhos. Achei de bom tamanho experimentar o bom suco e o espumante sem álcool. Tão satisfeito quanto os que experimentaram os sabores da bebida com teor alcoólico. Quem justifica uma taça do produto da uva nas refeições, pode estar certo. Mas também quem se contenta em “embebedar-se” da própria sobriedade para, apenas, ser feliz… sem ressaca!