Poderia falar em “notícia falsa” e, possivelmente, muitos entenderiam, mas não se interessariam tanto quando se a expressão usada fosse mais charmosa e estivesse na moda: “fake news”. O significado é o mesmo, mas ganhou repercussão em função dos recursos da internet e, especialmente, da velocidade com que as informações correm através das redes sociais. Objetiva atrair visualizações para páginas nas mídias sociais, mas têm sido usadas de muitas formas na política partidária e disseminar o ódio contra pessoas, instituições, empresas e governos.
Não confundir com a “fofoca”, que tem o seu cunho de maldade em relações familiares, vizinhança, grupos de trabalhos ou estudos. Mas, enquanto esta sempre tem sua origem num fato concreto, mesmo com uma interpretação distorcida, a fake news possui, desde a origem, a marca da mentira e da intenção de ser prejudicial. Enquanto a fofoca nasce do tradicional: “você viu o que aconteceu com a fulana (o)?”, a fake news tem estrutura bem montada tecnicamente para utilizar imagens, textos e embaralhar a realidade, quase sempre com o interesse de tirar um adversário do caminho.
A fake news parte de uma mente que distorceu valores e pensa estar num mundo – na política, meio empresarial, mas também no ensino, religião e família – onde há uma concorrência predadora e quem for mais esperto vai ter as melhores chances. E não precisa de limites éticos e morais... Isto não aparece de uma hora para a outra. Faz parte de um processo educacional iniciado na infância, onde se toleram pequenas mentiras, a violência de ações infantis, apropriações indevidas do que é de outras crianças e se quebrem regras elementares de convivência, especialmente em brincadeiras.
O “7 de setembro” mostrou que as fake news foram constantes com limites institucionais ultrapassados e muitas explicações. Um líder disse estar tranquilo porque, se outros fazem, porque sua turma não poderia fazer? As fronteiras já não são ditadas pelas leis e valendo para todos, mas a flexibilização se dá porque alguém fez por primeiro e, então, fica tudo liberado! Engraçado é que de tanto deturparem informações, acabaram “vítimas”, com alguns colocando as “asinhas de fora” e, se dando conta de que havia caçadores na área, recolheram-se aos seus poleiros…
Tempos difíceis para um jornalismo sério. Você entra na fila do mercadinho, da feira, do banco e vai ter alguém trocando informações, para, em seguida, um “especialista” intervir e dizer que não é bem assim, porque “o meu primo postou no grupo da família que o fulano só deu aquela declaração porque estava pressionado, mas a coisa ainda vai feder!” Na volta, já tem uma meia dúzia que passa a acreditar e fazer corrente. No “disque me disque” e “quem conta um conto aumenta um ponto”, tá feito o estrago! Já se tem um foco de pessoas desinformadas, mas crente, preocupadas e assustadas.
Educar é sempre um processo difícil. Ainda mais, quando jovens lidam com informações que, até agora, eram de difícil acesso. Especialistas alertam que a conscientização é fundamental para não se replicar informações falsas. O ideal seria que cada um verificasse os fatos antes de compartilhá-los e não acreditar em tudo o que circula pela internet. Mas quem disse que vivemos num tempo ideal? A mistura de fofoca com mentira parece com o coronavírus: posso ser portador e não ter problemas, mas disseminando, me transformo numa arma perigosa para ferir as pessoas e prejudicar a verdade!
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