A ligação da Nilza Vitória era para fazer um apelo: seu grupo fornece alimentação a pessoas em situação de carência e precisava - para fazer a entrega - de algo bem simples, mas que, nos últimos tempos, estava se tornando difícil de conseguir: caixinhas de leite. Onde o alimento pode ser acondicionado e se mantém, por mais tempo, conservado de forma prática e higiênica. Na conversa, contou do pedido que fazem aos finais de semana na Igreja do Seminário.
Contam com a colaboração de alguns, mas precisam - além da massa que é uma doação constante - de arroz, feijão, azeite... Tinham estudado a encíclica do papa Francisco que fala sobre Ecologia e acreditavam ser o momento de pedir a contribuição da população sabendo que, também, é uma forma de reciclar este material que vai para o lixo comum em tão grande quantidade. Um processo de conscientização por tabela. A ecologia ambiental abrindo espaço para a ecologia humana...
Quando falou das pessoas que atendem lembrei de matéria recente onde menino de cinco, seis anos postou na Internet que pretendia leiloar "pintura" - desenho feito numa folha de papel - da irmã para recuperar a casa - se é possível chamar assim espaço comum com quarto, sala, cozinha... Bem falante e articulado era o retrato do potencial entre crianças que vivem em favelas e vilas precisando - estes sim - de apoio público e social para que não apenas sobrevivam, mas tenham perspectiva de vida.
O Banco de Alimentos Madre Tereza de Calcutá e o Banco de Alimentos de Pelotas - além de diversas iniciativas de grupos religiosos e sociais - têm atuação fundamental para minimizar a miséria silenciosa encontrada na periferia da cidade. O desemprego e a fome, muitas vezes, andam juntos. Mesmo que se fale em melhorias, parcela da população entrou letargia: desconhecem direitos e oportunidades, lhes falta educação básica e uma triste cultura do "deixa assim pra ver como é que fica!"
Alguém disse que "alimentar esta gente faz com que não queira pegar no pesado!" Deveria se dar condições de trabalho (a vara para pescar) para que, depois, pudessem comer. Usando da mesma figura, poderia se dizer que, mesmo para chegar ao rio é preciso ter alguma coisa na barriga que dê energia para buscar o peixe. Grupos cristãos e espíritas sabem o quanto a prática da caridade - especialmente com carentes e necessitados - é fundamental no plano de realização de qualquer pessoa...
É possível se pensar que estas medidas são assistencialistas e não mudam a realidade. Verdade. Mas, ao olhar para filhos, sobrinhos, netos e vê-los sorrir porque fizeram uma boa refeição, lembre que outras crianças não terão a mesma oportunidade. Não está se pedindo que faça nenhum sacrifício, apenas separe e higienize caixinhas de leite. O detalhe que pode tornar mais leve o seu coração... e concretizar a sua solidariedade!
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
Uma cultura do envelhecer
Piadinha: o senhor vai ao médico revisar o aparelho de audição. Testado, o especialista pergunta: "sua família ficou feliz?" Resposta: "eu ainda não contei." Incrédulo, a questão: "porquê?" Sorrizinho zombeteiro: "eles acham que eu não ouço nada... na última semana, mudei meu testamento três vezes..." Foi do que lembrei acompanhando recentes discussões a respeito do celibato dos padres da Igreja Católica provocadas pela participação - ou não - de Bento XVI num livro que trata do assunto.
Quando o papa resignou, comprometeu-se a se afastar do comando da Igreja e recolher-se a um silêncio de oração. Continua escrevendo, mas pelas fotos vê-se que o envelhecimento acentuou-se e, ao invés de ser envolvido por celeuma, precisa de cuidados. Embora todas as pregações sobre a valorização do idoso, a distância entre teoria e prática mostra que, mesmo entre religiosos, disputas por interesses ideológicos e poder fazem perder a noção do respeito pelo ser humano.
O que acontece em nível de instituições também se dá em casas geriátricas e famílias. Por um endeusamento da juventude e falta de uma cultura do envelhecer, acredita-se que, se o idoso tiver cama, alimentação, roupa limpa, atendimento médico, deveria dar graças a Deus... Porquê? Cada vez mais pessoas ultrapassam os 60 anos em condições de administrar as próprias vidas. Precisam, sim, dar-se conta dos seus limites e utilizá-los para vencer o medo do tempo que passa e, especialmente, da morte.
No dia a dia, veem-se casos piores: pessoas que não querem se responsabilizar por idosos, mas saber que bens possuem e se já destinaram para alguém... Fazem-se de atenciosos enquanto têm alguma chance de serem beneficiados e se não houver nada disto envolvido, então... "Mutretas" começam quando convencem o idoso a disponibilizar seu cartão para receber o benefício. É triste ver filhos, netos e pseudoresponsáveis utilizarem para empréstimos e pagar as próprias contas!
A cultura do envelhecer inicia aos 40 anos, no alvorecer da Terceira Idade, quando é preciso prestar atenção a exercícios - fundamentais para se livrar de dores costumeiras, especialmente das "juntas"; criar espaços de sanidade mental, tanto individual como em grupo; ajudar a cuidar de filhos e netos, mas, especialmente, transformar moradia em lar, lugar para cultivar plantas, ter seu animalzinho de estimação, ler, assistir filmes, ouvir música e aproveitar as redes sociais como janela aberta para o Mundo.
A lembrança do que aconteceu com o papa é porque também a sociedade precisa se preparar para envelhecer... E sair de cena! Viver mais não significa maior qualidade de vida. Um idoso pode até parecer "um sem noção" porque a memória e a inteligência lhe pregam peças, sem apagar a sua - e nossa - história... Como diz Cecília Sfalsin: "passam-se os anos e o que fica são as marcas de um tempo vivido, sentido e vencido".
Quando o papa resignou, comprometeu-se a se afastar do comando da Igreja e recolher-se a um silêncio de oração. Continua escrevendo, mas pelas fotos vê-se que o envelhecimento acentuou-se e, ao invés de ser envolvido por celeuma, precisa de cuidados. Embora todas as pregações sobre a valorização do idoso, a distância entre teoria e prática mostra que, mesmo entre religiosos, disputas por interesses ideológicos e poder fazem perder a noção do respeito pelo ser humano.
O que acontece em nível de instituições também se dá em casas geriátricas e famílias. Por um endeusamento da juventude e falta de uma cultura do envelhecer, acredita-se que, se o idoso tiver cama, alimentação, roupa limpa, atendimento médico, deveria dar graças a Deus... Porquê? Cada vez mais pessoas ultrapassam os 60 anos em condições de administrar as próprias vidas. Precisam, sim, dar-se conta dos seus limites e utilizá-los para vencer o medo do tempo que passa e, especialmente, da morte.
No dia a dia, veem-se casos piores: pessoas que não querem se responsabilizar por idosos, mas saber que bens possuem e se já destinaram para alguém... Fazem-se de atenciosos enquanto têm alguma chance de serem beneficiados e se não houver nada disto envolvido, então... "Mutretas" começam quando convencem o idoso a disponibilizar seu cartão para receber o benefício. É triste ver filhos, netos e pseudoresponsáveis utilizarem para empréstimos e pagar as próprias contas!
A cultura do envelhecer inicia aos 40 anos, no alvorecer da Terceira Idade, quando é preciso prestar atenção a exercícios - fundamentais para se livrar de dores costumeiras, especialmente das "juntas"; criar espaços de sanidade mental, tanto individual como em grupo; ajudar a cuidar de filhos e netos, mas, especialmente, transformar moradia em lar, lugar para cultivar plantas, ter seu animalzinho de estimação, ler, assistir filmes, ouvir música e aproveitar as redes sociais como janela aberta para o Mundo.
A lembrança do que aconteceu com o papa é porque também a sociedade precisa se preparar para envelhecer... E sair de cena! Viver mais não significa maior qualidade de vida. Um idoso pode até parecer "um sem noção" porque a memória e a inteligência lhe pregam peças, sem apagar a sua - e nossa - história... Como diz Cecília Sfalsin: "passam-se os anos e o que fica são as marcas de um tempo vivido, sentido e vencido".
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
A fragilidade da esperança pela paz
A possível guerra entre o Irã e os Estados Unidos não é a repetição de um filme onde se percebe claramente quem são os mocinhos e quem são os bandidos. Neste caso, está mais para a brincadeira de criança onde as provocações começam por pequenos gestos até que alguém tenha que apartar o que chegou às vias de fato. Só que, na atualidade, não se vê alguém, em nível internacional, capaz de "separar" os dois brigões...
Os iranianos há muito tempo batem na canela dos americanos, justificando pelo fato de que não concordam em que os EUA se auto-proclamem xerifes da humanidade, com direito (com frágil objeção na ONU) de intervir onde julgar necessário sob o pretexto de proteger seus cidadãos. Novamente, quando o mar e o rochedo se enfrentam, quem sofre, na maior parte dos casos sem saber os reais motivos, é a população civil.
Disputas e contendas podem ter diversas falsas motivações, como questões religiosas ou de manutenção da democracia. Mas elas acontecem por motivos econômicos, disputa de poder ou vaidade. Religião é desculpa que diversos grupos (inclusive igrejas) utilizam para mascarar seus reais motivos. E democracia, nem se fala, sofre como desculpa nas mãos daqueles que são democratas no quintal dos outros...
O problema é que se o mais fraco tem um canivete o outro tem uma metralhadora. No frigir dos ovos, muitos "líderes" disfarçados de gente boa estão dando um osso para ver uma boa briga e o que sobra, porque esta não é apenas uma disputa entre pivetes, mas de gente grande que dá o primeiro tiro sabendo a quanto vai o preço do petróleo, as bolsas de valores e os países que serão afetados pelo comércio internacional.
A provocação iraniana vinha se dando na "medida certa". Acontece que erraram na dose quando (por erro humano ou não) acertaram um avião civil com cerca de 180 passageiros. Da potencial simpatia que poderiam conquistar, sobraram dúvidas e gente que começou a achar que tinha apostado na mão errada. A certeza de que rapidamente conseguiria outros sócios na empreitada foi por água abaixo.
Quem acha que a disputa no Oriente não afeta nossa calma e pacata vidinha em Pelotas está enganado. Veja o que acontece com o preço do petróleo, que influencia o valor da gasolina e do diesel, repercute no frete da produção do país e chega ao preço do pão na padaria... Esta cadeia que acaba na mesa ou em serviços é tão complexa que, na maior parte das vezes não se conhece por preguiça de entender a macro Economia.
Golda Meir dizia: "não é possível apertar as mãos com punhos fechados". As vozes mais sensatas já se dão conta de que o medo é que as escaramuças se tornem base para um conflito internacional que acabe de vez com o já fragilizado diálogo na região. Então, é rezar e torcer para que mãos e corações abertos encontrem caminhos que não deixem morrer e revigorem a esperança pela Paz!
Os iranianos há muito tempo batem na canela dos americanos, justificando pelo fato de que não concordam em que os EUA se auto-proclamem xerifes da humanidade, com direito (com frágil objeção na ONU) de intervir onde julgar necessário sob o pretexto de proteger seus cidadãos. Novamente, quando o mar e o rochedo se enfrentam, quem sofre, na maior parte dos casos sem saber os reais motivos, é a população civil.
Disputas e contendas podem ter diversas falsas motivações, como questões religiosas ou de manutenção da democracia. Mas elas acontecem por motivos econômicos, disputa de poder ou vaidade. Religião é desculpa que diversos grupos (inclusive igrejas) utilizam para mascarar seus reais motivos. E democracia, nem se fala, sofre como desculpa nas mãos daqueles que são democratas no quintal dos outros...
O problema é que se o mais fraco tem um canivete o outro tem uma metralhadora. No frigir dos ovos, muitos "líderes" disfarçados de gente boa estão dando um osso para ver uma boa briga e o que sobra, porque esta não é apenas uma disputa entre pivetes, mas de gente grande que dá o primeiro tiro sabendo a quanto vai o preço do petróleo, as bolsas de valores e os países que serão afetados pelo comércio internacional.
A provocação iraniana vinha se dando na "medida certa". Acontece que erraram na dose quando (por erro humano ou não) acertaram um avião civil com cerca de 180 passageiros. Da potencial simpatia que poderiam conquistar, sobraram dúvidas e gente que começou a achar que tinha apostado na mão errada. A certeza de que rapidamente conseguiria outros sócios na empreitada foi por água abaixo.
Quem acha que a disputa no Oriente não afeta nossa calma e pacata vidinha em Pelotas está enganado. Veja o que acontece com o preço do petróleo, que influencia o valor da gasolina e do diesel, repercute no frete da produção do país e chega ao preço do pão na padaria... Esta cadeia que acaba na mesa ou em serviços é tão complexa que, na maior parte das vezes não se conhece por preguiça de entender a macro Economia.
Golda Meir dizia: "não é possível apertar as mãos com punhos fechados". As vozes mais sensatas já se dão conta de que o medo é que as escaramuças se tornem base para um conflito internacional que acabe de vez com o já fragilizado diálogo na região. Então, é rezar e torcer para que mãos e corações abertos encontrem caminhos que não deixem morrer e revigorem a esperança pela Paz!
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
Dilema entre fé, religião e presença social
Nossos tempos exigem figuras de referência que, com a mesma facilidade com que são alçadas ao sucesso, também caem no esquecimento. Isto se dá em praticamente todos os setores, passando pela política, economia, comunicação e, até, religião. Se olharmos para a área da produção musical, vemos supostos artistas que surgem como numa pancada de chuva de verão para, em seguida, desaparecer sem deixar rastros.
Quando Francisco foi sagrado papa, a mídia que trata das questões com mais superficialidade - por julgar que é exatamente isto o que atende às massas ou por incompetência de contextualizar a informação e protagonistas - acreditou que surgia uma figura que serviria para atender às demandas de uma sociedade que se encontra sedenta por manifestar sua fé... mas olhando com desconfiança para as religiões.
Francisco seguiu sua jornada fazendo aquilo que sempre fez: tinha uma história como homem de Deus e pensara que, chegando aos 75 anos, poderia resignar (aposentadoria para os bispos, arcebispos e cardeais) e recolher-se ao silêncio da oração e do serviço pastoral. Escolhido, enfrentou muitas dificuldades, em todos os sentidos - interna e externamente - dando uma nova perspectiva para se viver a fé, na religião Católica.
Quem procura por um banco de imagens na Internet encontra o papa em situações onde é carinhoso e atencioso com crianças, idosos, excepcionais, deficientes físicos. No entanto, "desiludidos" porque Francisco não fez o que gostariam que fizesse: expor as entranhas da Igreja sem ter uma solução para seus problemas, encontram em factoides a chance para mostrar seu "descontrole" e "agressividade".
O papa é um pastor - da forma como não se via desde João XXIII - e raramente se vê entre padres e bispos. Tivemos pontífices políticos e intelectuais, mestres em negociação internacional ou especialistas em diversas áreas do conhecimento. Hoje, precisamos de homens que se preocupem e cuidem dos outros, sem tecer longos e cansativos discursos sobre fé, esperança e caridade, que não condizem com a prática...
Não vi o filme "Os Dois Papas"... mas já gostei. Não tenho Netflix e infelizmente, espero que chegue aos cinemas de Pelotas (assim como "O Irlandês" e "Downton Abbey"), mostrando a "humanidade" de dois homens: o papa que resigna e outro que, novamente como João XXIII, não aceita "mandato tampão", certo de que a graça do Espírito sopra sobre os cardeias para iniciar as mudanças tão necessárias à Igreja.
"O amor tem muitas faces. É um erro pensar que podemos viver sem amor". Com sua correspondente, a misericórdia: "o pecado é ferida, não uma mancha. Precisa ser curada, tratada, e o perdão não é suficiente". Bom caminho é resistir a receitas fáceis: alimentando a fé, no encontro pessoal com Deus; vivendo uma religião, expressão da fé de cada um; e o mais difícil: presença social, prática efetiva - e afetiva - da caridade!
Quando Francisco foi sagrado papa, a mídia que trata das questões com mais superficialidade - por julgar que é exatamente isto o que atende às massas ou por incompetência de contextualizar a informação e protagonistas - acreditou que surgia uma figura que serviria para atender às demandas de uma sociedade que se encontra sedenta por manifestar sua fé... mas olhando com desconfiança para as religiões.
Francisco seguiu sua jornada fazendo aquilo que sempre fez: tinha uma história como homem de Deus e pensara que, chegando aos 75 anos, poderia resignar (aposentadoria para os bispos, arcebispos e cardeais) e recolher-se ao silêncio da oração e do serviço pastoral. Escolhido, enfrentou muitas dificuldades, em todos os sentidos - interna e externamente - dando uma nova perspectiva para se viver a fé, na religião Católica.
Quem procura por um banco de imagens na Internet encontra o papa em situações onde é carinhoso e atencioso com crianças, idosos, excepcionais, deficientes físicos. No entanto, "desiludidos" porque Francisco não fez o que gostariam que fizesse: expor as entranhas da Igreja sem ter uma solução para seus problemas, encontram em factoides a chance para mostrar seu "descontrole" e "agressividade".
O papa é um pastor - da forma como não se via desde João XXIII - e raramente se vê entre padres e bispos. Tivemos pontífices políticos e intelectuais, mestres em negociação internacional ou especialistas em diversas áreas do conhecimento. Hoje, precisamos de homens que se preocupem e cuidem dos outros, sem tecer longos e cansativos discursos sobre fé, esperança e caridade, que não condizem com a prática...
Não vi o filme "Os Dois Papas"... mas já gostei. Não tenho Netflix e infelizmente, espero que chegue aos cinemas de Pelotas (assim como "O Irlandês" e "Downton Abbey"), mostrando a "humanidade" de dois homens: o papa que resigna e outro que, novamente como João XXIII, não aceita "mandato tampão", certo de que a graça do Espírito sopra sobre os cardeias para iniciar as mudanças tão necessárias à Igreja.
"O amor tem muitas faces. É um erro pensar que podemos viver sem amor". Com sua correspondente, a misericórdia: "o pecado é ferida, não uma mancha. Precisa ser curada, tratada, e o perdão não é suficiente". Bom caminho é resistir a receitas fáceis: alimentando a fé, no encontro pessoal com Deus; vivendo uma religião, expressão da fé de cada um; e o mais difícil: presença social, prática efetiva - e afetiva - da caridade!
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