Na fila para pegar comida. Atrás, dois rapazes conversavam, acompanhados por um menino na faixa dos 10 anos, que ouvia atento... Discutiam números da violência, em especial de assassinatos, que diminuiu na comparação com o ano passado. O pai do pequeno destacou que o feminicídio aumentou, com uma "pérola": "também, as mulheres querem tanto ir para a rua... e do jeito que vão... só podem se dar mal".
No Dia dos Pais, meios de comunicação destacaram que homens se tornam mais sensíveis quando acompanham o desenvolvimento dos filhos. Foto hilária se tornou símbolo de fofura do rapaz que - para se fazer presente na vida da filha de quase dois anos - vestiu roupa de bailarina e tirou fotos com boas e gostosas risadas...
Ninguém nasce preconceituoso. Aprende-se no convívio da família e grupos sociais. O preconceito com as mulheres é violência que se introjeta na formação de valores e referências. A repetição de discursos como do primeiro pai inculca sentimento de "superioridade", "senhor de todas as coisas" e, ao ser desagradado, o "direito" de resolver à sua maneira, com a cumplicidade omissa de vizinhos e "amigos".
A população se conscientiza enquanto é lembrada, mas tem memória curta. Em seguida, se interessa por outros assuntos e joga estes no esquecimento. Temas fundamentais como prevenção da saúde e uma sociedade sem violência precisam ser repetidos (de forma diferente) todos os dias, todos os meses, todos os anos...
Martin Luther King, falando do preconceito racial, sabia que não veria o momento em que negros e brancos coexistissem em paz. Mas precisava pregar repetidamente para se concretizar um dia... Comparava com o patriarca Moisés, que libertou o povo de Israel do Egito e viu mas não conseguiu entrar na Terra Prometida. Da mesma forma, intuía um novo tempo para seu povo que precisava vencer as próprias limitações.
Falar de feminicídio é mostrar o quanto uma sociedade machista e patriarcal marginalizou o papel da mulher. Respeitar direitos não é "guerra dos sexos", mas dar a cada um a possibilidade da sua realização. Vamos levar muito tempo para que haja uma educação que liberte dos ranços disfarçados de brincadeiras, piadas, descasos...
Homens que choram, brincam, solidários no sofrimento da companheira no parto não perdem a masculinidade. Ao contrário, transformam mulher e filhos em parceiros e amigos por toda uma vida. Uma nova cultura inicia quando existe a consciência de que não há filho perfeito, nem pai perfeito; mas que o primeiro vai ter o segundo como referência... Aceitar e conviver com pequenos e grandes defeitos faz parte do desafio sublime de ajudar a construir a identidade de um novo ser humano!
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