The good doctor (o bom doutor) é daquelas séries de televisão que, periodicamente, nos permitem fazer uma reflexão sobre nossas limitações e o quanto ainda estamos longe de entender as limitações alheias. A síndrome da qual o jovem residente é portador o faz diferente, sem necessidade de rotular se isto é bom ou mau. Apenas que é aspirante a uma carreira, buscando tocar sua vida, encontrar o seu espaço e aprender.
A Síndrome de Savant (como diz a Wikipédia: síndrome do sábio, do idiota-prodígio é distúrbio psíquico com o qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência) se caracteriza por possuir habilidades ligadas a memória extraordinária, com pouca compreensão do que acontece no seu contexto.
Shaun Murphy vem do interior trabalhar em um famoso hospital. Enfrenta os desafios na área médica, precisando provar sua capacidade para colegas e superiores. Um dos problemas é o de relacionamento com quem trabalha ou mesmo com os pacientes. Afinal, os códigos de linguagem mais sofisticados não fazem parte do seu entendimento. Neste sentido, tem dificuldades de aprendizagem, mas se transforma num desafio para aqueles que entendem o potencial da sua atuação.
Diálogo que demonstra a ausência de maldade é feito com a colega que luta por compreendê-lo: "porque você foi grossa comigo quando nos conhecemos? Depois gentil na segunda vez que nos vimos, e agora quer ser minha amiga? Qual destas partes você estava fingindo?" Não há meios termos, sem as nuances próprias do sarcasmo ou do cinismo. Para ele, o que se diz é textual: pedra é pedra, terra é terra e não existem figuras de linguagem que lhes possam alcançar uma outra significação.
Lembrei de outros casos: a mãe que carregava o bebê especial abordada por vizinha que desejava ver o que chamavam de "doentinho"; os pais que internaram o rapaz com síndrome de down e tiveram dificuldades de que os atendentes tratassem como apenas mais um paciente; o autista agredido porque também na prática de esportes ou nos exercícios do dia a dia sua mente percorria mundos e caminhos diferentes...
Pais de especiais trabalham mais a fim de que suas potencialidades sejam descobertas e atuam numa sociedade culturalmente preconceituosa. Enquanto o jovem Shaun tem sua capacidade colocada à prova, os demais têm as benesses de serem "normais". Sua presença incomoda: abandonar os padrões de comportamento convencionais desafia a fazer uma medicina onde a técnica não exclua o fator humano. E isto vai acontecer, até com alguns percalços, mas tendo as dores amenizadas por muito mais compreensão, mais sorrisos, mais carinhos e, quem sabe, muito mais abraços!
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