quinta-feira, 1 de novembro de 2018

No dia seguinte...

Não era uma senhora idosa, mas quando subiu um degrau mais alto em direção à seção em que votava precisou ser ajudada por uma moça. Já na porta, levou a mão ao peito e tomou fôlego para entrar na fila. Foi quando ouvi a outra dizer: "força, não podemos desistir!" Do pouco que escutei deu para perceber que já tinha tentado votar e não conseguiu. Parou na biometria. Agora ia dar certo, a filha ajudaria.
Dizer que temos muito o que aprender com o resultado das eleições é o chamado "óbvio ululante". Cientistas e analistas políticos têm em suas mãos uma riqueza de material que precisa ser destrinchado. Até porque, as coisas não foram como pareciam ser. Além das dificuldades que o aprimoramento técnico exige, há um descontentamento por partidos e políticos, não importando a coloração ideológica.
Com toda a aversão que se criou pelo horário eleitoral, nas campanhas anteriores sempre encontrava um ou outro que tinha assistido. Neste ano, absolutamente ninguém! O mesmo se deu para os debates. Fora do meio político ou de familiares de algum candidato - ou com interesses outros... - a apatia foi generalizada. E aí mora uma dúvida, seria mesmo desinteresse ou havia muita gente na moita?
Fomos para as urnas com a impressão de que, em nível nacional, a decisão aconteceria ainda no primeiro turno. A diferença entre as pesquisas e a boca de urna consolidou a maioria silenciosa que entrou calada e saiu no mais absoluto silêncio, achando que precisa participar - nem que seja obrigada - mas com a sensação de inutilidade.
Para os comunicadores, a impressão é de que a aposta em meios tradicionais como o rádio e a televisão já não têm a abrangência propalada. A polarização entre duas candidaturas se deu pela desidratação das demais, reforçando o sentimento de que não houve a decisão por um candidato, mas a rejeição da proposta adversária.
Não importaram os latifúndios de exposição porque se consolidou a informação (e a desinformação) pelas redes sociais, que se prestaram para esclarecer ou sedimentar mentiras travestidas de verdades (fake news). Repetidas por pessoas "idôneas" difícultaram saber quem estava com a razão. Se é que há um lado com razão.
Posso estar enganado, mas se aproximam tempos bicudos. Não apenas até o segundo turmo, mas, especialmente, no pós-eleição. Os panos quentes tem servido mais para esconder estocadas naqueles que não são adversários mas inimigos. No meio de tudo, fica uma população em que aumenta o descrédito, especialmente vendo o resultado das urnas. No dia seguinte, embora no fundo do poço, a única receita é a da senhora cansada, mas que não abriu mão do seu voto: "força, não podemos desistir!"

Nenhum comentário: