Laranjal de muitas e boas lembranças. Ao sol da manhã de domingo, o encontro com amigos e conhecidos. Numa destas ocasiões, conversar de passagem com o professor José Luiz Marasco e o seu comentário: "gosto daquilo que contas, assim como da Lica (sua esposa), porque são histórias de vida simples".
Este diálogo me vem à memória quando, nas conversas com formadores de opinião da Igreja Católica, deixo claro que ninguém testemunha ou anuncia se não for a partir de suas origens e da sua realidade. Temos um lugar de onde viemos, onde nos formamos e as influências que moldaram nosso modo de pensar e agir.
Venho do interior de Canguçu, de onde saímos, como dizia meu pai, "deixando a miséria para entrar na pobreza". Na minha infância, convivi com escola e igreja, na periferia de Pelotas - Vila Silveira. Depois fiz meus estudos ligado à igreja Católica. Portanto, como negar que sou de origem do interior e pobre, "vileiro" e pensador cristão católico?
Um dos aspectos da crise de valores no Brasil diz respeito a que nossos políticos se isolaram e desconhecem a realidade do país. Longe das origens e dos reais problemas que afligem a população falam em teoria a respeito de tudo, mas não alcançam a prática de que suas ações e os gastos que geram afetam diretamente a população.
A crise moral e ética parte da negação, já que grande parte deles saiu da pobreza, vem do interior ou periferia, mas, de alguma forma, serviu-se da máquina pública para, em alguns casos, construir fortunas. O "encantamento" do mundo da política retirou a noção de realidade para, seguindo sofismas ideológicos, encontrar "valores" maiores, que abafam consciências, com os fins justificando os meios.
É sintomático que - de praticamente todos os partidos - figuras públicas tentem explicar o inexplicável: confrontem imagens inquestionáveis com desculpas esfarrapadas e pretensas alegações jurídicas. Tristemente sabendo que são eles mesmos fizeram as leis e, nas instâncias superiores, seus escolhidos as aplicam.
Voltar às origens é a chance de reescrever a história. Esquecer o que se fez é impossível. Mas há sempre uma nova página para se escrever um novo começo: conviver com aqueles que ainda estão nos campos e nas colônias; nas ruas esburacadas e poeirentas; precisando do atendimento público pode fazer com que se renegue muito do que se teorizou. Mas mostra que a vida das pessoas continua acontecendo nas ruas e não pede muito, apenas direito de viver como cidadão.
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