O padre iniciou a Missa de Natal lembrando o Menino que se acomodara num banco na praça em frente à igreja. Jeito triste de uma criança que precisava ser ninada, especialmente nesta noite. Do outro lado da praça, o Menino parou abismado diante da vitrine: ali estava o mais belo Presépio que já vira! As figuras eram de tamanho natural: o pai, José, demonstrava serenidade; a mãe, Maria, a preocupação com o filho deitado no cocho de alimento dos animais; o menino, Jesus, com os braços e as perninhas erguidas. Perfeitos, pensou, quase poderia ouvi-los falar!
Voltou alguns anos atrás, quando nasceu seu último irmão. Ficou encantado com a pequena criatura que se movia sem coordenação. Lançava os braços e as perninhas em todas as direções e tinha os olhos ávidos por acompanhar quem estivesse por perto. Ao saíram de casa, se assustou. Seu pai o chamou à parte e foi taxativo:
- Tá na hora de tu cair no mundo.
Achou que não tinha entendido.
- Já tens 12 anos, podes te cuidar por ti mesmo. Aqui a gente já tem boca demais pra sustentar. Vai quietinho e pega as tuas coisas.
Pensou em procurar a mãe, em tentar convencer o pai, mas ficou mudo. Sabia dos problemas da família e ele era um fardo! Apenas pegou uma sacola com suas poucas coisas e saiu para a rua. De longe, olhou pela última vez a casa, desejando não mais esquecê-la. Fazia tanto tempo! Sentou-se na beira da janela, enquanto olhava a família sagrada e ouvia música. Ainda tinha lágrimas nos olhos quando se encostou à parede e foi resvalando para o sono. Não tinha pai, não tinha mãe, não tinha mais irmãos!
Sentiu, então, alguém levantá-lo e o abrigar em seus braços. Pensando se era realidade ou sonho deu-se conta de que era carregado pelo padre:
- Fazia dias que observava quando ficavas pela praça ou em frente à Igreja. Depois da Missa de Natal, procurei por ti, mas tinhas desaparecido! E estás aqui! Minha vocação sacerdotal não me permitiu ter filhos, quem sabe possa te dar outra vida e dignidade!
O padre olhou para o céu: o rastro de luz de uma estrela cadente marcou o firmamento. Não, não era apenas um meteoro que caia, era a sua Estrela de Belém! E, nos seus braços, tinha o menino Jesus! Sorriu para Deus e pensou que agora sim, podia dizer: também sou pai! Tinha sentido encontrar uma canção para ninar o Natal!
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