segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A transparência opaca

Periodicamente, um termo ganha a preferência nacional e passa a ser repetido como refrão de posicionamento politicamente correto. Até pouco tempo era “cidadania”, cantado em versos e prosa, tornou-se lugar comum para aqueles que não tinham nada a dizer, mas que viam na palavra a força simbólica de um discurso. Recentemente, a bola da vez passou a ser “transparência”, que rondou a campanha eleitoral e saiu chamuscada porque certos políticos de carreira são capazes de driblar as instâncias fiscalizadoras para manter suas regalias.
Tudo a ver com o pânico que tomou conta da política internacional quando um site - cablegate.wikileaks.org – resolveu tornar público o que por si só já deveria sê-lo: documentos das relações entre países. Políticos de primeiro escalação que apregoam a “transparência” viram-se nus diante da opinião pública, resmungaram discursos que não convenceram e, então, partiram para a censura explícita, tirando o site do ar, através dos servidores que o abrigavam nos Estados Unidos e na Europa.
Mas o estrago já estava feito: pudemos tomar conhecimento de artimanhas diplomáticas e atitudes não tão dignas assim de figuras brasileiras e internacionais, mostrando suas garras afiadas no momento de calar quem faz o que deveria ser natural na democracia: socializa o conhecimento da forma como é feita a administração pública. Muitos dos ditadores de plantão – ainda são muitos ao redor do Mundo – seguidamente denunciam que são acusados de crimes que os países ricos também cometem, mas que o fazem sob o lustro da “democracia”, muitas vezes sem que a população tome conhecimento.
Agora, o fundador do site Wikileaks, Julian Assange, é ameaçado de ser preso e está constantemente se deslocando em território europeu. Dizem que, na guerra, a primeira derrotada é sempre a verdade. Parece que nos interesses financeiros e políticos internacionais vale o mesmo: a verdade somente vale se confirma certos interesses. Pode ter certeza, não são os seus ou os meus, mas daqueles que já se julgam impunes, pois apregoam a sua “verdade”, uma transparência opaca.

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