Cartão de crédito produziu peça publicitária de rara sensibilidade: menina perde um dente e, na sua vaidade, tem medo de enfrentar o Mundo, porque, ao sorrir ou ao falar, ali está a “porteirinha”. O pai parte para o humor, que não dá certo. Tenta um lance diferente: compra uma caixa de lápis coloridos e dá de presente. A criança abre a caixa e falta um - entregue pelo pai - que abre a boca e lá está “faltando” um dente (pintado de preto). A reação impressiona porque a ousadia da cumplicidade vem recheada de emoção e carinho.
Tenho ouvido relatos desta experiência ao conversar com educadores e pais: não há receitas para encaminhar bem um filho ou aluno na vida, mas é necessário dedicação, atenção e, sobretudo, criatividade em tentar o novo ou o diferente quando as coisas não vão bem. Especialmente, ocupando a crianças em áreas pelas quais demonstra interesse.
A ideia de um dente “faltante” é o jeito de dizer que, se possível, o pai gostaria de estar no lugar da filha, assumindo a sua tristeza e mágoa por aquele deslize da natureza, que derruba os dentes de leite, mas, em seguida, dá uma nova dentição. Como a criança ainda não entende, o gesto de solidariedade é o arrimo para vivenciar a situação, certa de que não está sozinha neste aprendizado.
Quase sempre me deparo com situações familiares e educacionais as mais diferentes possíveis e imagináveis, mas que não passam longe deste problema e da forma como o pai a encarou. Não havia a necessidade de muitas palavras, mas fica-se com a certeza de que a criança vai guardar por toda a vida o momento em que o pai soube mostrar o quanto a amava, num gesto simples, capaz de modificar o comportamento diante da insegurança.
Coisas que, então, nos pareceram banais são valorizadas por filhos ou alunos, anos depois, pois estava presente a solidariedade, a compreensão e o desejo de reiniciar novamente – tantas vezes quanto necessário - não tendo medo do ridículo, se vislumbramos um caminho onde deixamos marcas da vida.
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