Casal alimentou durante muito tempo o sonho de comprar uma chácara e morar no interior. Uma vida simples, mas com a facilidade de recursos - luz, água, comunicações. Mudaram de ideia depois da compra e - antes de lá morar - receber a visita de ladrões. Na segunda vez, com a família na casa, não encontrando objetos que pudessem carregar destruíram o que restara. E judiaram com os donos.
Deram queixa na polícia - o que já não é comum porque as pessoas não acreditam em retorno - e numa delas ouviram o "conselho" de que procurassem em casas que vendem móveis usados, poderiam encontrar alguns de seus pertences. Mais: pensassem num vigia para cuidar da propriedade!
Uma história comum, de pessoas comuns, que vivem uma das facetas da violência, já entranhada no dia a dia e que, infelizmente, passou a ser "aceita" porque "é assim", num sistema desajustado, onde pessoas marginalizadas viram, efetivamente, marginais, alimentando discussões intelectuais, sem efeitos práticos.
É o receio que se tem quando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil define a Campanha da Fraternidade deste ano. O tema será "Fraternidade e superação da violência" e o lema "Vós sois todos irmãos". Busca parcerias para fazer o que o sonho ainda não alcançou: mudanças estruturais que reformatem, a médio e longo prazo, a coexistência social.
No ano que a Igreja Católica dedica aos leigos - segmento que ainda não encontrou a sua identidade dentro da instituição - precisa tomar a frente das discussões da vida que passa pela política - poderes legislativo e executivo, mas também do quanto estamos longe de um poder Judiciário que atenda as necessidades dos cidadãos.
O fatalismo do "é assim" corre paralelo ao voto descomprometido de quem elege e não fiscaliza. A Campanha da Fraternidade pode - e deve - ajudar em ações concretas para que a comunidade se proteja de todo o tipo de violência, inclusive as da política. Impedindo aproveitadores de repetir velhos e batidos discursos.
A fraternidade deve fazer parte do espírito de cidadania. Cristão consciente encontra sua força no espaço religioso, mas atua no Mundo. Sabe que o violentador de hoje foi o violentado de ontem. São necessárias ações para impedir este ciclo vicioso. Mas também atacar os problemas quotidiano que impedem a vida das pessoas comuns.
Acabar com a violência é impossível, mas é possível o seu controle. Mesmo assim, as marcas, para quem foi atingido, ficam para sempre. A sua existência comprova que já perdemos diversas batalhas. O momento é delicado, pois precisamos sair da indiferença para a indignação. O único jeito para que não se perca também a guerra!
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