O que tem em comum o fato do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ter apostado no “crescei e multiplicai-vos” e congressistas brasileiros pautarem as manchetes das semanas, sempre com um novo escândalo¿ Em princípio, parece que nada, mas não é bem assim, em ambos há uma marca do que se chama de “relativismo moral”. No Paraguai, mulheres declaram ter dado filhos ao então padre ou bispo Lugo, agora presidente do país. Tendo sido padre e bispo da Igreja Católica, que tanto zela pela preservação da moral, tal comportamento é desabonador para o próprio e para a instituição. Sim, porque já se falava a respeito destes casos antes que os meios de comunicação “fresteassem” por esta janela semi-encostada pela pudicidade dos integrantes da própria Igreja. Ou seja, acobertaram uma conduta nada edificante.
No Congresso Nacional, a cada dia se vêem escândalos ligados ao tráfico de influência e mal uso de recursos públicos. “Inocentes parlamentares” chegam a dizer que não sabiam de nada, ou, pior, que sempre foi assim e porque somente agora se cobra uma conduta honesta¿ Este possivelmente seja o problema, em ambos os casos: aqueles que deveriam vigiar para que tais situações não evoluíssem – o ditado diz que “o mal deve ser arrancado pela raiz” - foram omissos ou complacentes, acreditando que não fosse chegar a tal ponto. Pois evoluiu e já não basta uma atitude de aceitar o reconhecimento público do erro. Ainda temos a pecha do “jeitinho brasileiro” e uma triste indiferença por parte da população, que vê isto como “normal” no chamado processo democrático.
Estamos mal e quem sabe possamos trazer estes casos para mais próximo, caso da ULBRA, por exemplo, onde a omissão em nível público e privado levou a uma espécie de letargia coletiva, onde cada um quer apenas resolver os seus problemas e conseguir sobreviver. Na Alemanha nazista, um escritor registrou que “um dia vieram os soldados e levaram uma família judia. Eu não sou judeu, então não me importei. No outro, buscaram uma família de ciganos. Como eu também não sou, não me importei. Em seguida buscaram os homossexuais e também achei que não era comigo. Depois vieram me buscar e não havia mais ninguém para reclamar”.
Estou fazendo a minha reclamação enquanto cristão, pelos “lugos” da vida, e expressando revolta com aqueles que se apossam do dinheiro público, menosprezando a inteligência de cada um de nós. Esta história eu já conheço e luto, a cada dia, para que não se repita.
domingo, 26 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Humanizar os centros urbanos
Câmeras de vereadores de diversos municípios têm colocado em pauta reavaliar o Código de Postura, em especial naquilo que trata da inserção de peças publicitárias nos meios públicos, assim como a ocupação desenfreada de calçadas, principalmente no centro das cidades. Seguindo exemplos como o de São Paulo e de Porto Alegre, há uma preocupação em manter limpas, em todos os sentidos, as áreas centrais, tanto no que se refere à sujeira propriamente dita, mas também o que causa poluição visual, dificultando a orientação das pessoas e, em muitos casos, causando transtornos.
Porém, chamou-me a atenção, em muitos municípios que visitei, a ocupação desenfreada dos espaços de locomoção para pedestres por placas, expositores, caixotes, seguranças, vendedores etc. As calçadas são reduzidas em quase a metade. No caso da entrada de algumas lojas, manifesta-se mais claramente o afã em transbordar seus produtos para o lado externo das lojas, diminuindo a área das portas, impedindo, em algumas circunstâncias, o acesso de pessoas idosas ou portadores de alguma deficiência física.
Sei que especialmente os publicitários de rua, alguns lojistas e os camelôs vão fazer pressão para que nada mude. No entanto, as câmeras que estão repensando o assunto precisam levar em consideração não os interesses de setores menores, mas o interesse maior da população. Permitir a redução das calçadas, ou que a propaganda se transforme em elemento poluidor, acaba sendo “gol contra” para todos os setores. Quem procura pelo comércio de alguma cidade quer ter facilidade e comodidade na hora de fazer os seus deslocamentos. Não quer andar batendo em mostradores de camelôs ou na porta das próprias lojas, nem ficar perdido por orientações de propaganda que acabam não orientando absolutamente nada.
O que se vê em alguns grandes municípios que recuperaram as áreas centrais – quase sempre históricas – é a possibilidade de fazer uma prazerosa caminhada onde, embora sejam milhares aqueles que se deslocam, não há o bate-bate, o empurra-empurra, o desviar-se de “acidentes” nada geográficos. Nestes casos, quando vemos a facilidade com que idosos ou deficientes físicos podem se utilizar de calçadas ou calçadões, damos razão aos que defendem um centro das cidades mais aberto, com mais recursos para serem aproveitados – inclusive bancos - por quem quer, muitas vezes, além de fazer compras ou buscar serviços, apenas encontrar um espaço de convívio, numa área humanizada.
Porém, chamou-me a atenção, em muitos municípios que visitei, a ocupação desenfreada dos espaços de locomoção para pedestres por placas, expositores, caixotes, seguranças, vendedores etc. As calçadas são reduzidas em quase a metade. No caso da entrada de algumas lojas, manifesta-se mais claramente o afã em transbordar seus produtos para o lado externo das lojas, diminuindo a área das portas, impedindo, em algumas circunstâncias, o acesso de pessoas idosas ou portadores de alguma deficiência física.
Sei que especialmente os publicitários de rua, alguns lojistas e os camelôs vão fazer pressão para que nada mude. No entanto, as câmeras que estão repensando o assunto precisam levar em consideração não os interesses de setores menores, mas o interesse maior da população. Permitir a redução das calçadas, ou que a propaganda se transforme em elemento poluidor, acaba sendo “gol contra” para todos os setores. Quem procura pelo comércio de alguma cidade quer ter facilidade e comodidade na hora de fazer os seus deslocamentos. Não quer andar batendo em mostradores de camelôs ou na porta das próprias lojas, nem ficar perdido por orientações de propaganda que acabam não orientando absolutamente nada.
O que se vê em alguns grandes municípios que recuperaram as áreas centrais – quase sempre históricas – é a possibilidade de fazer uma prazerosa caminhada onde, embora sejam milhares aqueles que se deslocam, não há o bate-bate, o empurra-empurra, o desviar-se de “acidentes” nada geográficos. Nestes casos, quando vemos a facilidade com que idosos ou deficientes físicos podem se utilizar de calçadas ou calçadões, damos razão aos que defendem um centro das cidades mais aberto, com mais recursos para serem aproveitados – inclusive bancos - por quem quer, muitas vezes, além de fazer compras ou buscar serviços, apenas encontrar um espaço de convívio, numa área humanizada.
sábado, 11 de abril de 2009
À sombra de um Ingá
Plantamos em frente à nossa casa dois pés de Ingá. No início, pequenos arbustos no meio da calçada, levaram quase dez anos para se transformar em frondosas e acolhedoras copadas. Veio de um vizinho, o Marcos, a sugestão de fazer uma limpeza por baixo. Tinha razão, foi então que apresentaram mais uma de suas características: a acolhida. Reparei que, em dias quentes era ali embaixo que as pessoas paravam, refrescando-se e podendo continuar a sua caminhada. As crianças ainda subiam por seu tronco, ou colhiam suas pequenas vagens, com a volúpia de quem degusta um manjar.
O Ingá não dura muito tempo, apenas um pouco mais do que uma vida humana e não atravessa séculos. O que me leva a pensar que a sua função é exatamente esta: servir aos caminhantes. Muito próximo do sentido da própria existência humana, pois não duramos tanto quanto desejamos e quando pensamos que nossas obras nos perpetuarão pela eternidade, elas são tragadas pelo tempo ou pela natureza.
Mais ou menos como, agora, está acontecendo na Itália. Além das vidas ceifadas pelos terremotos, ainda há o registro de monumentos históricos destruídos, mostrando-se efêmeros diante de um fenômeno natural. A natureza rebela-se diante da nossa altivez com as “marcas da civilização” – templos, palácios, monumentos – e tem a força dos elementos naturais, não deixando dúvidas de que a raça humana é hospedeira neste Planeta.
É uma dura lição: para o Homem, o seu “eterno” acaba sendo efêmero; como dizia o poetinha: “que seja eterno enquanto dure”. Não quero deixar algo que perdure pelos séculos. Só gostaria de viver bem, hoje, junto àqueles com quem tenho o privilégio de conviver, pois o que se eterniza e nos diferencia de todos os demais seres é um olhar, um gesto, ou apenas uma carícia. Mais ou menos aquilo que me dá o Ingá, praticamente sem pedir nada em troca.
O Mestre dos Mestres levou-nos a olhar os Lírios nos campos, mostrando que nem o rei Salomão, em todo o seu esplendor e sabedoria, conseguiu ostentar tanta beleza. E uma flor tem a beleza do que se sabe efêmera, pois existe hoje e não mais existirá amanhã. Mesmo assim, cada um de nós teima em querer domar o tempo e as circunstâncias da História. Isto não é possível, pois somos finitos e necessitamos aprender a viver cada momento presente intensamente, pois se vivemos apenas do passado, nos frustraremos, e se quisermos viver do futuro, nos angustiaremos. Acho que o melhor jeito é à sombra de um Ingá.
O Ingá não dura muito tempo, apenas um pouco mais do que uma vida humana e não atravessa séculos. O que me leva a pensar que a sua função é exatamente esta: servir aos caminhantes. Muito próximo do sentido da própria existência humana, pois não duramos tanto quanto desejamos e quando pensamos que nossas obras nos perpetuarão pela eternidade, elas são tragadas pelo tempo ou pela natureza.
Mais ou menos como, agora, está acontecendo na Itália. Além das vidas ceifadas pelos terremotos, ainda há o registro de monumentos históricos destruídos, mostrando-se efêmeros diante de um fenômeno natural. A natureza rebela-se diante da nossa altivez com as “marcas da civilização” – templos, palácios, monumentos – e tem a força dos elementos naturais, não deixando dúvidas de que a raça humana é hospedeira neste Planeta.
É uma dura lição: para o Homem, o seu “eterno” acaba sendo efêmero; como dizia o poetinha: “que seja eterno enquanto dure”. Não quero deixar algo que perdure pelos séculos. Só gostaria de viver bem, hoje, junto àqueles com quem tenho o privilégio de conviver, pois o que se eterniza e nos diferencia de todos os demais seres é um olhar, um gesto, ou apenas uma carícia. Mais ou menos aquilo que me dá o Ingá, praticamente sem pedir nada em troca.
O Mestre dos Mestres levou-nos a olhar os Lírios nos campos, mostrando que nem o rei Salomão, em todo o seu esplendor e sabedoria, conseguiu ostentar tanta beleza. E uma flor tem a beleza do que se sabe efêmera, pois existe hoje e não mais existirá amanhã. Mesmo assim, cada um de nós teima em querer domar o tempo e as circunstâncias da História. Isto não é possível, pois somos finitos e necessitamos aprender a viver cada momento presente intensamente, pois se vivemos apenas do passado, nos frustraremos, e se quisermos viver do futuro, nos angustiaremos. Acho que o melhor jeito é à sombra de um Ingá.
A sombra de um Ingá
Deleito-me com tua acolhida.
Fecho meus olhos e estou envolto por ti.
Sussurras-me quando o vento desalinha teus cabelos
E embala-te ao sabor da brisa.
Eu desejo apenas ficar em teu silêncio,
Usufruir do teu frescor,
Deixar-me possuir por tua sombra protetora.
Não digo nada.
Quero apenas viver este momento fugaz/eterno.
Não quero partir.
Mas ficar não faz sentir a tua falta.
E partir é a razão para um dia voltar.
Fecho meus olhos e estou envolto por ti.
Sussurras-me quando o vento desalinha teus cabelos
E embala-te ao sabor da brisa.
Eu desejo apenas ficar em teu silêncio,
Usufruir do teu frescor,
Deixar-me possuir por tua sombra protetora.
Não digo nada.
Quero apenas viver este momento fugaz/eterno.
Não quero partir.
Mas ficar não faz sentir a tua falta.
E partir é a razão para um dia voltar.
domingo, 5 de abril de 2009
Um manual de gente
Para quase todos os produtos que se compra, procurando entre as muitas tralhas que normalmente os acompanham, sempre vem junto um manual orientando a correta montagem e utilização. Pois fiquei pensando que para “gente” não há um manual dizendo como podemos “utilizar”. Se este não for o termo, como é que se lhe faz companhia durante a existência. Os pais iniciantes sabem que, embora tenham ouvido todas as lições, o inesperado é uma das “normas”, exigindo reação rápida, imprevista, mas com raros deles se saindo mal.
Talvez o manual para adolescentes seja o mais complicado. Teria que prever a nuance de seus “delicados” sentimentos, ou, dito de outra forma: como controlar um turbilhão de hormônios insistindo em levar do zero a mil em poucos segundos, numa cadeia de reações imprevistas. O manual do adulto também não seria fácil. Controlados os hormônios, é a fase em que se escondem as emoções, em função de um “estar adulto” que requer postura adequada ao perfil social e ao status.
Mas, o mais interessante seria o do idoso, categoria que o marketing teima em chamar de “terceira idade”. Para estes, o manual deveria mais prever como se tratar aqueles que interagem com eles! Tenho o privilégio de conviver com dois de 83 anos e sou testemunha de cenas que seriam hilárias se, em certos momentos, não fossem tristes. Lembro de três situações onde a conduta das pessoas é incompreensível. A primeira, quando se conversa, com a presença do próprio, e nos perguntam: “ela (ele) está bem?” Ao que não resisto em responder: “o melhor é perguntar para ela!” A segunda, quando há objeto a ser movido e as pessoas se apressam em retirá-lo, não se dando conta de que ele precisa fazer a sua parte no convívio social, inclusive em atividades físicas. O terceiro, ao sentirem que o idoso encontra dificuldade para encontrar uma palavra e completam a frase ou falam ao mesmo tempo.
É desconhecimento de caso: o idoso, na maior parte das vezes, não é surdo e nem tem problema com a fala, portanto pode e deve ser questionado e responder; no segundo, mover pequenos objetos não é um ato de se aproveitar dele, mas mantê-lo ativo e ocupado; completar a frase ou falar ao mesmo tempo é má educação em qualquer circunstância. O ritmo e a agilidade de um idoso exigem mais tempo, mas não se pode desprezar sua capacidade de raciocínio. E um alerta aos apressadinhos: respeitar as possibilidades dos outros é um bom exercício para saber o que vai se passar num futuro, talvez ainda distante, mas que, tenham certeza, chegará.
Talvez o manual para adolescentes seja o mais complicado. Teria que prever a nuance de seus “delicados” sentimentos, ou, dito de outra forma: como controlar um turbilhão de hormônios insistindo em levar do zero a mil em poucos segundos, numa cadeia de reações imprevistas. O manual do adulto também não seria fácil. Controlados os hormônios, é a fase em que se escondem as emoções, em função de um “estar adulto” que requer postura adequada ao perfil social e ao status.
Mas, o mais interessante seria o do idoso, categoria que o marketing teima em chamar de “terceira idade”. Para estes, o manual deveria mais prever como se tratar aqueles que interagem com eles! Tenho o privilégio de conviver com dois de 83 anos e sou testemunha de cenas que seriam hilárias se, em certos momentos, não fossem tristes. Lembro de três situações onde a conduta das pessoas é incompreensível. A primeira, quando se conversa, com a presença do próprio, e nos perguntam: “ela (ele) está bem?” Ao que não resisto em responder: “o melhor é perguntar para ela!” A segunda, quando há objeto a ser movido e as pessoas se apressam em retirá-lo, não se dando conta de que ele precisa fazer a sua parte no convívio social, inclusive em atividades físicas. O terceiro, ao sentirem que o idoso encontra dificuldade para encontrar uma palavra e completam a frase ou falam ao mesmo tempo.
É desconhecimento de caso: o idoso, na maior parte das vezes, não é surdo e nem tem problema com a fala, portanto pode e deve ser questionado e responder; no segundo, mover pequenos objetos não é um ato de se aproveitar dele, mas mantê-lo ativo e ocupado; completar a frase ou falar ao mesmo tempo é má educação em qualquer circunstância. O ritmo e a agilidade de um idoso exigem mais tempo, mas não se pode desprezar sua capacidade de raciocínio. E um alerta aos apressadinhos: respeitar as possibilidades dos outros é um bom exercício para saber o que vai se passar num futuro, talvez ainda distante, mas que, tenham certeza, chegará.
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