Mãos amigas me levaram a fazer palestras para pessoas na “terceira idade”. Tive que pesquisar, ler, observar, mas foram os testemunhos daqueles que estão na chamada “melhor idade” que me impressionaram. Em primeiro lugar, dá para perceber que as duas expressões que substituíram - “idoso” ou “envelhecimento” - não mudaram a forma das pessoas “tocarem” a sua vida. Mas são amplamente utilizadas por aqueles que articulam o consumo, vendendo produtos fantásticos, tendo custos, muitas vezes, não percebidos: financiamentos com desconto na aposentadoria, planos com menores valores em viagens ou, como contou uma amiga, a realização de um sonho: a cirurgia que corrigiria sua fisionomia, cara e desnecessária.
Já fui acusado de “explorador da terceira idade”. Explico: durante algum tempo, tive uma agência de comunicação. Quando ela foi fechada, fiquei com alguns trabalhos sendo feitos em casa e meu pai transformou-se no meu “mandalete”, como se dizia antigamente - levava e buscava material. Um dia em que ele não pode trazer os originais de um jornal, minha mãe se ofereceu e a levei até o prédio, de onde retornaria de ônibus. Alguns minutos depois, um telefonema e uma acusação bem humorada: “já vimos explorador de crianças; já vimos explorador de mulheres; mas explorador da terceira idade, és o primeiro!”
Creio que o sentido não é “explorar”, mas manter as pessoas com alguma ocupação e o espírito de equipe. Este é o sentido do que tenho dito: em primeiro lugar é preciso se preparar para a aposentadoria e a chegada do envelhecimento (que inicia ao nascermos); depois, manter-se ocupado em algum tipo de atividade, por mais simples que seja; e, por fim, não perder o sentido de pertença a um grupo.
Não há milagres. Ninguém vai ficar melhor porque envelheceu. Estando mais próximos de acertar as contas com o Todo Poderoso, pode-se mudar um pouco. Mas não basta, apenas, pensar que uma religião vai ser suficiente. É bom, mas precisa ser acompanhado de uma mudança interior. Difícil, mas não impossível.
No Natal e Ano Novo, quando muitos questionam o sentido de suas vidas, vejo amigos e amigas sem medo de envelhecer e vivendo plenamente cada segundo: não é suficiente passar pelo tempo, é preciso vivê-lo intensamente, sem remoer o passado ou angustiar-se com o futuro. Não sei se esta é uma receita, mas é a lição que aprendi e serve para somar experiências nesta longa aventura que é.... Viver e ser feliz!
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