Algum tempo atrás se cunhou a expressão “babá eletrônica”, definindo a situação em que a mãe ou responsável por uma criança ligava a televisão para que a mesma tivesse entretenimento, muitas vezes, durante horas, em absoluta passividade. De lá para cá, esta ferramenta evoluiu em diversas direções: primeiro, pois já não são apenas crianças, mas adolescentes, maiores e idosos solitários que se utilizam deste instrumento como forma de passatempo.
Em segundo lugar, somou-se à televisão a Internet e, então, há casos, em todas as idades, de pessoas que passam dias e noites em companhia da televisão, navegando pela Internet ou em sites de relacionamentos. Não estou dizendo nada de novo, mas fiquei preocupado quando uma professora reconheceu que ficou um final de semana inteiro dentro de casa sem nenhum contato com pessoas, fisicamente, mas apenas pelos meios virtuais. E, mais ainda, quando fiz uma consulta e o médico recomendou, além das caminhadas para auxiliar a saúde, andar, nem que seja na volta da quadra, para “ver gente” e sentir o ar da rua.
Num outro dia, passei numa avenida em que caminhavam ou apenas passeavam desde crianças até idosos armados de suas muletas. Quando conversei sobre isto em casa nos damos conta de que são muitas as desculpas para não fazer nada e nos fechamos de tal forma que ficamos reduzidos ao enclausuramento de nossas casas.
Sei que não sou o melhor dos exemplos: devo a presença no aniversário de um amigo; a participação no casamento de uma pessoa querida; o convite de um chimarrão de final de tarde; o testemunho numa reunião daqueles que se esforçam por manter viva uma das mais profundas manifestações do ser humano: o convívio. Embora eu já esteja chegando ao “alvorecer da terceira idade”, fico preocupado com as crianças, os idosos e os deprimidos que deixamos alimentarem seus ressentimentos e frustrações diante de uma “babá eletrônica”. Ela cobra quase nada, raramente dá problemas e é incapaz de qualquer tipo de reclamação. Mas também não oferece um carinho, um sorriso, aquele ombro amigo, tão necessário em diversas situações.
Estas pessoas não precisam apenas de “distração”. Há sentimentos envolvidos, cristalizando-se, e, mais tarde, embora possam ser resolvidos, deixam marcas profundas e dolorosas. Da próxima vez que tiver alguém assim em casa, a receita pode ser bem simples, mas tente: convide para dar uma volta na quadra. Nem que seja apenas para ver gente.
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