Artigo da semana:
O escritor precisa ser, antes de mais nada, um contador de histórias. Uma marca que atravessa os tempos, desde que os homens (e as mulheres, com certeza) sentaram no entorno de uma fogueira, procurando passar conhecimentos ou, simplesmente, no entretenimento que ocupava o tempo e instigava a imaginação. Dos primórdios, passando pelos menestréis, aos tropeiros dos nossos tempos mais próximos, alguém que saiba atrair o interesse de uma roda de conversa.
Conheci e admirei muitas pessoas que tinham este dom. Encantei-me quando entendi que
as chamadas parábolas do Jovem Galileu eram parte do seu método pedagógico de intensificar uma imagem com a vivacidade de uma narrativa onde os personagens e a própria trama tinham por objetivo sedimentar uma mensagem. De tal forma que pudesse teorizar com seus aprendizes, porém, para os demais, ficava a lição de uma boa história.
Uma boa história não precisa ser um poço de ética ou de moral. Sequer personagens absolutamente certinhos que exalam santidade. Ao contrário, as melhores tiram do barro do homem comum um comportamento que não se preocupa em ser certo ou errado, mas de quem sabe que sua vida é partilha de convívios, onde o importante é vencer obstáculos, de preferência não deixando ninguém para trás. O personagem comum, muitas vezes, não tem nome, porque ressignifica a universalidade.
Para ouvir boas histórias, é necessário “perder” tempo com alguém que já não tem pressa em fazer uma narrativa. Dificilmente elas se repetem, porque se fazem novas em cada momento em que se mira o olhar de quem escuta e apazigua o coração com o que ressoa pelo tempo e faz eco na própria alma. Quem corre muito, não consegue fazer parte desta experiência. Passa uma vida dando a desculpa de que ouvir os mais velhos é desperdício de tempo e dinheiro.
O tempo escoa, muitas vezes o dinheiro não chega e os contadores de histórias já partiram… Percebe-se tarde demais que ficou um hiato a ser preenchido. De tudo o que se correu atrás restou a saudade do que não se viveu e se valorizou. Numa das festas familiares, como o recente dia dos Pais, quem já viveu um pouco mais percebe o quanto é precioso conviver em torno de uma mesa, partilhar uma refeição, rir um pouco e, com certeza, lembrar de velhas histórias, com novos protagonistas… (Imagem gerada pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)